Ciência
24/12/2021 às 12:00•2 min de leitura
Parece meio bizarro de se pensar, mas você não leu errado. Esse cenário se formou porque os povos filipinos e membros do Exército do Povo se tornaram ainda mais marginalizados quando a Segunda Guerra Mundial acabou, em 1945, mesmo tendo batalhado ao lado das tropas Aliadas dos Estados Unidos contra a ocupação japonesa — muito diferente de outros locais asiáticos do sudeste.
A organização Hukbalahap, mais conhecida como Exército Popular Anti-japonês, foi a que mais teve sucesso como grupo guerrilheiro que matou muitos soldados japoneses. Porém, após a queda de Bataan, em abril de 1942, para os japoneses, aqueles considerados rebeldes começaram uma rebelião camponesa contra a ocupação japonesa das Filipinas — que durou até 1945.
Os huks rebeldes enxergavam os filipinos ricos que colaboravam com os japoneses, como alvos justos de assassinato. No final da guerra, os ricos haviam conquistado a maioria das grandes propriedades do centro de Luzon, nas Filipinas, e trabalhado em conluio com os invasores.
Os huks, então, estabeleceram um governo regional, coletaram impostos e administraram as próprias leis sob uma liderança comunista. A tensão entre eles e o governo filipino surgiu e se intensificou com a chegada de cerca de 500 mil rifles na organização, que se recusou a entregá-los a um governo que consideravam oligárquico.
Visto que o país foi um dos recursos principais para os EUA durante a guerra, a Agência Central de Inteligência (CIA) decidiu enviar Edward Lansdale para ajudar a reprimir a rebelião.
Edward Lansdale. (Fonte: Wikipedia/Reprodução)
Lansdale não só foi um oficial da Força Aérea dos EUA, servindo no Gabinete de Serviços Estratégicos antes de entrar para a CIA, como também era especializado em guerra psicológica. Ele acreditava que o melhor trunfo de uma guerra era atentar contra as crenças socioculturais do alvo escolhido para tornar o plano uma cilada perfeita.
O oficial escolheu o Aswang como tática para usar contra os huks. A criatura folclórica filipina é um monstro que drena o sangue dos seres humanos, como um vampiro. Na década de 1950, essa crença ainda era muito forte no meio rural, e as famílias temiam muito que seus filhos ficassem soltos a partir do entardecer.
(Fonte: NanaimoNewsNow/Reprodução)
Na época que a CIA chegou, uma unidade de rebeldes havia assumido uma posição privilegiada em uma colina em Luzon, configurando o cenário perfeito para que Lansdale desse início a sua guerra psicológica.
Quando os rebeldes saíram em patrulha à noite, o oficial ordenou que os soldados capturassem o último homem do grupo, perfurassem seu pescoço em dois pontos e o pendurasse de cabeça para baixo para que todo seu sangue fosse drenado. Seu cadáver depois foi jogado de volta na trilha para causar um alvoroço ainda maior nos rebeldes quando eles voltassem da patrulha.
(Fonte: Reddit/Reprodução)
Não é de se surpreender que o plano tenha funcionado, visto que os povos asiáticos já são conhecidos por sua imensa superstição — ainda mais no século XX. No dia seguinte, os rebeldes fugiram do topo da colina, reduzindo a vantagem que estavam durante a rebelião.
Para se certificar de que não voltariam, Lansdale ainda pintou com sangue casas em vilarejos que acreditava que os rebeldes estivessem escondidos, bem como escreveu mensagens insinuando haver espiões infiltrados lutando contra a resistência que faziam.
Finalmente, em maio de 1954, os huks se renderam, pondo um fim na rebelião que chegaram bem próximo de vencer se não fossem os planos da CIA. Além disso, uma combinação de armamento americano avançado cedido ao governo filipino e as reformas administrativas do presidente Roman Magsaysay também colaboraram para que aquela guerra terminasse.