Artes/cultura
26/03/2022 às 06:00•3 min de leitura
O gênero policial é um dos mais amados da literatura: basta lembrar da quantidade de pessoas que continuam fissuradas pelas histórias escritas por Agatha Christie. E toda trama policial costuma ter, claro, um detetive que juntará as pistas e desvendará o crime de forma muito inteligente.
Estes personagens marcantes da ficção, aliás, por vezes foram inspirados em pessoas que existiram de fato. E de onde os escritores tiraram estas ideias? Neste texto, contaremos quatro detetives famosos construídos a partir de referências reais.
(Fonte: Tag Livros/Wikimedia Commons)
Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930), o autor dos livros de Sherlock Holmes, explicou em entrevistas no que se inspirou para criar o mais famoso detetive da história. Quando era estudante, ele trabalhou como balconista na Enfermaria Real de Edimburgo, na Escócia. Neste serviço, ele auxiliava o cirurgião Joseph Bell, seu mentor.
Doyle presenciava quando o médico interagia com seus pacientes, e começou a notar que ele era capaz de descobrir mais sobre suas enfermidades com suas perguntas e observações, do que como eles haviam declarado antes das consultas. Posteriormente, o escritor declarou: “utilizei e ampliei seus métodos quando, mais tarde, tentei construir um detetive científico que resolvesse casos por suas próprias descobertas e não pela loucura do criminoso”.
(Fonte: Television Stills)
Já o célebre Hercule Poirot, dos romances escritos por Agatha Christie, pode ter sido inspirado em um policial da Bélgica. Registros da autora descobertos por historiadores levaram à conclusão que o detetive foi imaginado a partir de um gendarme (nome dado aos guardas franceses) chamado Jacques Hamoir.
Poirot apareceu pela primeira vez no livro "O famoso caso de Styles", de 1920, e foi retratado em um total de 33 romances. A relação do personagem com Hamoir nunca foi expressa por Agatha Christie, mas pesquisadores belgas fizeram algumas constatações sobre a relação entre a autora e o guarda.
Sabe-se que ambos teriam se encontrado quando eram jovens, em Devon, cidade natal da escritora. Mas há outras coincidências, agora entre os personagens. Jacques Harmoir e Hercule Poirot fugiram de seu país com o avanço das tropas alemãs em 1914 e se instalaram na Inglaterra. Além disso, ambos tinham um bigode bem característico e, claro, eram detetives.
Mas a prova definitiva da relação é uma declaração contida na autobiografia de Agatha Christie. Ela escreveu: “tínhamos uma colônia de refugiados belgas vivendo na paróquia de Tor. Por que não fazer do meu detetive um belga? Eu pensei. Havia todos os tipos de refugiados. Que tal um policial refugiado?"
(Fonte: Wikimedia Commons)
O escritor Edgar Allan Poe (1809-1849), um dos grandes mestres do terror psicológico, também criou um detetive famoso. Falamos de C. Auguste Dupin, personagem do conto "Os assassinos da rua Morgue", de 1841.
A inspiração de Poe era explícita: seu personagem foi criado a partir de Eugène François Vidocq (1775-1857), um antigo ladrão e falsário que se tornou o primeiro detetive particular da história. Vicocq viveu uma intensa vida no crime (sua primeira vítima foi seu pai, um padeiro, de quem roubou 2 mil francos) que envolveu fugas espetaculares da cadeia e várias modalidades de infração, como falsificação de documentos.
O ladrão ficou conhecido como um mestre dos disfarces e chegou a fugir da prisão vestido de freira. Depois que se tornou detetive, também mudava a sua aparência para poder fazer suas investigações. Além disso, para render os ladrões, usava técnicas de boxe. Uma figura realmente inspiradora.
(Fonte: Memórias Cinematográficas)
Agora temos o caso de um detetive ficcional que foi inspirado em outros personagens ficcionais. O desgrenhado Frank Columbo, da série Columbo (1968-2003), da NBC, teve origem em personagens que seus dois criadores, William Link e Richard Levinson, gostavam.
O primeiro é Porfiry Petrovich, o investigador do crime ocorrido no romance Crime e castigo, do russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881). O outro é Padre Brown, o detetive amador presente em 53 contos escritos por G. K. Chesterton.
As referências são bem explícitas tanto para os fãs dos romancistas quanto da série. Columbo emprestava o aspecto sempre meio desarrumado, a gesticulação exagerada de Petrovich e a postura discreta, capaz de desaparecer em um grupo, do personagem de G. K. Chesterton.