1984: como uma das maiores obras da ficção matou George Orwell

30/03/2022 às 04:002 min de leitura

Publicado em 1949 por George Orwell, 1984 tornou-se um livro atemporal e uma consagração da arte moderna, descrevendo, em forma de crítica social, contextos de alienação social e vigilância. Além de ter elevado o patamar do autor, o texto também absorveu todas as suas forças, exigindo que o britânico se esforçasse acima de seu limite e encontrasse a morte após um período de escrita obsessiva.

Colaborador do Observer, de seu colega David Astor, desde 1942, George Orwell se destacou como revisor de livros e correspondente, beneficiando-se de uma carreira voltada à escrita para dar início ao célebre A Revolução dos Bichos, de agosto de 1945. À medida que a Segunda Guerra Mundial chegava ao fim, o autor encontrava novas inspirações na relação entre moralidade e linguagem, conferindo fortes influências na atmosfera de terror londrina e em sua própria vida familiar.

Com um filho adotivo e a mulher morta durante uma operação de rotina, Orwell se dedicou exclusivamente à literatura e chegou a escrever 110 mil palavras para várias publicações, incluindo 15 resenhas de livros, em pouco menos de um ano. Assim, Astor decidiu intervir na vida do amigo e sugeriu uma mudança de Islington para a remota ilha escocesa de Jura, próxima a Islay. A dura viagem ocorreu em maio de 1946.

(Fonte: Getty Images / Reprodução)(Fonte: Getty Images / Reprodução)

Mal de saúde e ainda recolhendo os cacos da tragédia vivenciada, o escritor aproveitou a paz do isolamento para lidar com um novo material. Sufocado pelo jornalismo e vendo um mundo se deleitar com sua genialidade — especialmente após o sucesso de A Revolução dos Bichos —, Orwell jurou se livrar das distrações e reencarnar cada aspecto de sua luta pessoal para produzir sua obra-prima, prosperando na adversidade autoinfligida.

"Escrever um livro é uma luta horrível e cansativa, como um longo surto de uma doença dolorosa. Nunca se empreenderia tal coisa se não fomos conduzidos por algum demônio a quem não podemos resistir ou entender. Pois todos sabem que o demônio é o mesmo instinto que faz um bebê gritar por atenção. E, no entanto, também é verdade que não se pode escrever nada legível a menos que se lute constantemente para apagar a personalidade de alguém", comentou o britânico.

Os últimos instantes de Orwell

Com vista para o mar e em uma simples casa, sem eletricidade, Orwell passou a viver como um espectro na névoa. Utilizando gás de cozinha para se aquecer e desenvolvendo aspectos cadavéricos devido às más condições, o autor recuperou parte de sua alegria ao se reencontrar com seu filho Richard e a irmã Avril, que se provaram essenciais na vida de Eric Blair — nome verdadeiro do britânico — e forneceram as condições para o retorno à escrita.

Com o novo regime estabelecido, o "Último Homem da Europa", como foi chamado posteriormente pelo escritor Dennis Glover, pôde concluir os primeiros rascunhos de 1984. Porém, já cansado e com sintomas de "inflamação nos pulmões", Orwell foi diagnosticado com tuberculose e admitiu estar "mortalmente doente", deixando de ir ao médico para "continuar com o livro que estava escrevendo." 

(Fonte: Companhia das Letras / Reprodução)(Fonte: Companhia das Letras / Reprodução)

Sem conseguir digitar bem e datilografando o livro em uma "máquina de escrever decrépita", Orwell abusou de medicamentos enviados por Astor. No início do tratamento, ele presenciou terríveis efeitos colaterais — úlceras na garganta, bolhas na boca, queda de cabelo, descamação da pele e desintegração dos dedos dos pés e unhas —, mas sentiu os sintomas da tuberculose se extinguirem em um período de três meses. Assim, o tempo provou ser suficiente para que 1984 fosse encerrado em 30 de novembro de 1948.

Orwell foi internado em um sanatório para tuberculosos no alto de Cotswolds, mas viu seu livro ser publicado, em 8 de junho de 1949. Envolvido na publicidade da obra, o lendário escritor teve a sensação de um momento fugaz de felicidade, mas tornou-se vítima de uma hemorragia massiva no hospital e morreu sozinho na madrugada de 21 de janeiro de 1950, aos 46 anos.

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