Ciência
19/04/2022 às 08:00•3 min de leitura
Muitas pessoas podem imaginar que as histórias de zumbi foram inventadas pelo cinema e se popularizaram nas últimas décadas com games, séries e filmes cheios de maquiagem e efeitos nojentos.
Embora o zumbi (popularmente conhecido como morto-vivo) tenha uma longa trajetória no cinema e na literatura, a sua origem é bem mais interessante, cultural e envolve uma viagem pelo mundo.
(Fonte: Shutterstock/Reprodução)
O conceito de zumbi tem origem nas crenças religiosas de alguns povos africanos. De acordo com o Oxford English Dictionary, "zumbi" é um termo originário da África Ocidental sendo que foi registrado pela primeira vez na língua inglesa em 1819.
Na língua Kikongo, falada no Congo e em áreas circundantes, a palavra "zumbi" está relacionada ao significado de fetiche, bem como ao termo nzambi, que significa “um deus”. Originalmente, zumbi ou zombi, também servia para se referir a um deus-cobra da religião Vodu.
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Entre o século XVIII e XIX, quando povos da África Ocidental foram levados para o Haiti e outras regiões do Caribe para serem escravizados, as crenças e práticas religiosas deles também foram junto.
Nessas regiões das Américas, o medo dos mortos-vivos e da possessão por espíritos malignos assumiram diversas formas. Uma delas é o jumbi, uma espécie de espírito ou fantasma dos mortos que reúne alguns conceitos de mitologias africanas e ameríndias. No Haiti, o jumbi se transformou em zumbi, já que era associado à morte, à possessão e ao terror do sofrimento mental e físico impostos aos escravizados.
A crença na zumbificação era uma ameaça constante aos escravizados, visto que os governantes locais e colonizadores a utilizavam como meio para controlar os africanos, impedindo-os de fugir. Por exemplo, ameaçando contratar um feiticeiro para zumbificar os fugitivos.
Essa crença se tornou tão forte entre os haitianos que, mesmo depois da independência do país, em 1804, e o consequente fim da escravidão, muitas pessoas ainda tinham medo de serem possuídas espiritualmente ou se transformarem em cadáveres amaldiçoados ressuscitados por meio da feitiçaria.
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Enquanto a América do Norte via o zumbi como uma criatura imaginária, mas perigosa e mortal, os haitianos temiam realmente o poder incontestável do Bokor, um feiticeiro que seria capaz de criar zumbis. Essa ideia, inclusive, assombra a população do Haiti até atualmente.
Mas não eram apenas os mortos que corriam o risco de virar zumbis, os vivos também podiam ser zumbificados ou forçados a fazer ações contra a própria vontade. Curiosamente, o poder de criar zumbis não estava restrito a feiticeiros e bruxas, pois até crianças com habilidades especiais podiam fazer isso.
A boa notícia é que se existe o mal, também há o bem, que, nesse caso, é o sagoma. Este é um xamã com poderes de cura graças à sua capacidade de manipular as forças do mundo espiritual, o que o permite quebrar a maldição.
As histórias de zumbi começaram a se popularizar nos Estados Unidos (EUA) depois que soldados do país retornaram da ocupação militar ao Haiti iniciada em 1915. White Zombies foi a 1ª produção cinematográfica a apresentar um morto-vivo ao público estadunidense.
O filme combinou o amor trágico, motivos góticos e lendas de zumbis haitianos, tentando capturar um pouco do medo da zumbificação. Embora seja de 1932, White Zombies compartilha e se baseia muito mais nas lendas haitianas sobre a ideia de zumbi do que a maioria dos filmes de hoje.
(Fonte: Shutterstock/Reprodução)
Porém, isso não cativou muito o público dos EUA, pois eles queriam horror e sangue. Então, na década de 1960, surgiu o zumbi americanizado, que distanciou ainda mais as pessoas da história e das lendas originárias da África e estabelecidas no Haiti e Caribe. Talvez, a mais famosa representação desse zumbi adaptado à demanda do público seja A Noite dos Mortos-Vivos, de 1968, filme dirigido por George Romero.
Na época, a produção não agradou muito, mas o crescimento do mercado e a criação de uma cultura pop em torno dos zumbis acabaram transformando o filme em um clássico cult décadas depois.
Para alguns estudiosos da Antropologia, todos nós somos zumbis metafóricos, pois expressamos sempre querer mais algo e muitas vezes sem explicação, não importando o custo, ou seja, enquanto um zumbi come cérebros sem saber porque, compramos produtos e desejamos algo sem ter motivo.