Ciência
24/06/2022 às 09:00•3 min de leitura
Uma das comemorações mais populares do ano, o Dia de São João é celebrado em diversas regiões e movimenta um cenário cultural diverso, destacando símbolos históricos, religiosos e mitológicos que muitas vezes não passam pela cabeça das pessoas. Todo dia 24 de junho, o nascimento e a santificação de São João Batista impactam os principais eventos folclóricos no Brasil e reúnem milhares de famílias e grupos. Mas você sabe como tudo isso iniciou?
Considerado por muitos especialistas como o maior dos profetas, João Batista é uma figura bíblica que fortaleceu a missão de Jesus Cristo após tê-lo anunciado como o Cordeiro de Deus. Nascido na Judeia, ele exaltava valores como retidão e outras virtudes, na intenção de purificar as almas através de cerimônias simbólicas executadas em cursos d'água do Rio Jordão — posteriormente conhecidas como batismo.
Sua iniciativa previa a ampla participação popular e permitiu a conversão de povos das mais diversas regiões. Porém, suas pregações rapidamente passaram a incomodar o poder vigente e acabaram causando sua prisão, datada de algum momento entre o ano 26 e o ano 28 da era cristã e ordenada pelo governante Herodes Antipas (20 a.C.–cerca de 39 d.C.). Em 29 de agosto do ano 29, João Batista foi decapitado por ordem de Salomé, filha de Herodes.
"Ele era filho de Zacarias, sacerdote, e de Isabel, prima de Maria Santíssima. Além de primo de Jesus. Sua mãe, Isabel, era prima de Maria, João ainda no ventre da mãe celebrou Jesus também no ventre de Maria como vemos em Lucas. Foi também ele o precursor de Jesus e sua mensagem salvífica", disse o hagiólogo José Luís Lira, fundador da Academia Brasileira de Hagiologia e professor da Universidade Estadual Vale do Aracaú, do Ceará.
(Fonte: The National Gallery / Reprodução)
"Não bastasse tudo isso, ele batizou Jesus. Então, não só o cristianismo, mas diversas religiões o celebram. De um modo geral, João Batista é mártir. Morreu em defesa da fé. E já os discípulos de Jesus o tratavam com reverência. No martirológio romano encontramos duas celebrações a ele, no nascimento e no martírio", conclui.
São João é um dos poucos santos católicos que possuem duas datas litúrgicas: 24 de junho (nascimento) e 29 de agosto (morte). Porém, segundo indícios, sua natividade só foi oficializada no século IV d.C. e sofreu aprimoramentos quase 200 anos depois, com o incremento de jejum solene, missa de vigília e outras atividades relevantes. Segundo o pesquisador Thiago Maerki, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ele foi concebido "no equinócio de outono" e nasceu "no solstício do verão europeu", tornando-se um símbolo bíblico de confirmação cósmica.
"Alguns teólogos ainda apontam para um certo paralelismo com o Natal de Jesus, que acontece no inverno europeu, quando analisam o 'Natal de João' no verão europeu", complementa o especialista. "Isso teria dado origem a manifestações folclóricas, inclusive os fogos de São João que simbolizam o nascimento do santo. É o nascimento, mas também é em referência ao início do verão".
Além disso, São João é visto como santo "anunciador" por ter introduzido Cristo na sagrada escritura. Sendo seis meses mais velho que Jesus — nascido em 25 de dezembro —, a data de celebração da vida de João Batista ficou para 24 de junho. "Porque, diferentemente dos profetas que falavam do futuro, ele indicou o messias no presente. Isso é muito forte na tradição religiosa", esclarece Maerki.
Com sua data de nascimento convencionada, João Batista tornou-se ícone por trás de festejos emblemáticos que celebram a alegria da devoção. No Brasil, sua força tem relação direta com o período colonial e acompanha tradições marcantes da cultura portuguesa — as festas joaninas, como são conhecidas na Europa. Especialmente no sertão nordestino, o evento possui um grande simbolismo.
(Fonte: Getty Images / Reprodução)
Além de ser relacionado com o cordeiro, São João tem ligação com a fogueira. "Uma antiga tradição diz que João nasceu no alto de uma montanha e que uma fogueira foi acesa quando sua mãe, Isabel, entrou em trabalho de parto para avisar aos parentes que moravam na planície. Pode ser daí o início das festas de junho, juninas", diz o hagiólogo José Luís Lira, fundador da Academia Brasileira de Hagiologia.
Para "festejar a nossa esperança e a confiança de poder ver dias melhores de paz e fraternidade", as celebrações de São João são regadas a músicas, danças, bebidas, fogos, bandeirinhas e muitas brincadeiras, de forma a relembrar a importância dos santos na construção religiosa do país e de confraternizar com pessoas próximas.