Ciência
05/08/2022 às 06:30•3 min de leitura
Como uma língua morre? De tanto ouvir que o latim é uma língua morta e, consequentemente, difícil de ser aprendida, é provável que em algum momento você já se indagou sobre o porquê isso acontece.
Atualmente, existem 573 línguas conhecidas extintas, de dialetos locais sem registros de seu alfabeto a palavras que nunca mais foram faladas, porque civilizações colapsaram, ou porque o idioma não foi mais estudado, se perdendo para sempre.
O mais impressionante disso tudo é que, segundo os linguistas do Swarthmore College, a cada duas semanas uma língua diferente morre, em meio a cerca de 7 mil idiomas existente no mundo, dos 31 mil que existiram. Essa conclusão foi alcançada em 2007 e também serviu para soar um alarme de calamidade global, pois indica que a humanidade talvez esteja caminhando para uma perda irrecuperável de conhecimento do mundo natural, preservado apenas em línguas que vivem em determinados locais, além do desaparecimento de culturas menos conhecidas.
(Fonte: Kaleela/Reprodução)
Via de regra, uma língua entra em seu processo de morte quando não é mais falada organicamente, mas sobrevive através de outros contextos, como acontece com os textos em latim recitados pela Igreja Católica. Uma língua extinta é aquela que não possui nenhum falante, bem como o pouco conhecimento sobre o próprio idioma, perdendo espaço também para outras línguas mais dominantes.
Isso aconteceu com o dálmata, por exemplo, um idioma românico falado na Croácia moderna, extinto em 1898. A língua morreu com Antonio Udaina, um homem surdo oriundo da região de Veglia, que aprendeu dálmata na infância com um punhado de outras línguas, mas não praticava há mais de 20 anos. E quando resolveu falar, as amostras que forneceu ao linguista italiano Matteo Bartoli eram imperfeitas demais e potencialmente corrompidas por empréstimos linguísticos.
(Fonte: Discover Magazine/Reprodução)
Ou seja, o dálmata já estava morto muito antes de Udaina, porque as chances de transmiti-lo em sua essência para outra pessoa, já haviam se tornado mínimas. Vale ressaltar que a morte de uma língua ocorre também por assassinatos em massa causados pelo contexto político, colonial e global que envolvem o domínio de pequenas línguas pelas maiores; perseguição religiosa, coerção, evolução, e o colapso de Estados.
Em uma pesquisa desenvolvida por Salikoko Mufwene, da Universidade de Chicago, ficou claro que a teoria da linha partidária sobre a extinção de uma linguagem é o colonialismo europeu, que erradicou as línguas não-ocidentais em todo o mundo, com a dominância do inglês, francês, espanhol e russo.
(Fonte: TTC WeTranslate/Reprodução)
As exceções estão em eventos que não foram graduais, como aqueles causados por pragas ou condições climáticas repentinas, igual aconteceu com a língua suméria da Mesopotâmia, amplamente considerada a primeira linguagem escrita atestada.
Em 3 de dezembro de 2012, durante uma conferência da União Geofísica Americana, vários climatologistas sugeriram que as secas e convulsões sociais que devastaram o coração mesopotâmico do sul foram responsáveis pelo fim abrupto da língua, apesar de sua proeminência; mostrando como a sociedade humana pode ser vulnerável às mudanças climáticas, principalmente aquelas causadas pelo homem.
Acredita-se que entre 2200 a.C. e 2000 a.C., quase 75% de todos os assentamentos sumérios foram abandonados e os amorreus, nômades de língua semítica, se estabeleceram nas principais cidades da região, preferindo usar a língua acadiana em vez do sumério.
Sendo assim, as comunidades sumérias sobreviventes não conseguiram transmitir a língua, acabando por ser esmagada pelo crescente número de falantes semíticos, desaparecendo como idioma cotidiano.
(Fonte: Azimuth Gulf/Reprodução)
Esse tipo de morte da língua, também associada à dominância, começou a vagamente ser relacionada com a maneira como o inglês tomou conta da era digital. Foi observado pela Toppan Digital Language Magazine, que dos 12 idiomas principais, o inglês corresponde por 98% do compartilhamento na internet e outros aspectos mais cotidianos da vida.
Isso resultou em um novo fenômeno da linguagem chamado "extinção digital", que a Islândia, por exemplo, enfrenta com dificuldade devido às altas taxas de uso da internet, presença do inglês no país insular, e a falta crescente de representação do islandês no mundo digital.
O temor que crianças islandesas não estejam construindo uma base de vocabulário em islandês, fez o governo do país liberar um suporte de software de código aberto para o islandês, em uma tentativa de preservar a integridade futura da língua em um mundo cada vez mais globalizado por idiomas considerados essenciais.