Estilo de vida
09/08/2022 às 04:00•2 min de leitura
Atualmente, o presidente Jair Bolsonaro parece ser um grande crítico das urnas eletrônicas que, segundo ele, seriam fáceis de serem fraudadas. Quem o vê esbravejando sobre o sistema eleitoral pode nem acreditar, mas em 1993, o então deputado federal Bolsonaro pleiteou para que o então sistema de voto em papel se tornasse eletrônico.
Filiado ao PPR, partido de Paulo Maluf, Bolsonaro discursou no dia 20 de agosto de 1993 para militares da reserva na sede do Clube Militar do Rio de Janeiro, defendendo que as urnas eletrônicas seriam a forma de evitar as fraudes. "Esse Congresso está mais que podre. Estamos votando uma lei eleitoral que não muda nada. Não querem informatizar as apurações. Sabe o que vai acontecer? Os militares terão 30 mil votos, e só serão computados 3.000", falou em seu discurso.
Segundo matéria do Jornal do Brasil veiculada nesta época, a reunião entre Jair Bolsonaro e os militares ocorreu em sigilo, e teve na plateia cerca de 200 pessoas. Além da informatização, Bolsonaro também defendeu outras mudanças no sistema, como a proibição de votos de analfabetos e a exigência do ensino médio para os candidatos.
(Fonte: O Globo)
Para entender a defesa de Bolsonaro das urnas eletrônicas, é preciso analisar o que estava acontecendo no país. O Brasil enfrentava forte inflação e o Plano Real estava sendo instalado. Em fevereiro de 1994, uma medida provisória instaurou a Unidade Real de Valor (URV), um sistema de conversão financeira que preparava o Brasil para a adoção da nova moeda.
Os ânimos do país estavam esquentando, e havia organizações que criticavam o governo de Itamar Franco, e o consideravam ruim para os trabalhadores. Os militares também criticavam a URV, pois, de acordo com a fala de Bolsonaro, os coronéis, capitães e sargentos teriam seus soldos diminuídos.
Jair Bolsonaro então assumia um tom crescente contra o governo e, segundo registrado em matéria do Jornal do Brasil, recomendava que houvesse "ações de guerrilha, saques e sabotagem" contra o Plano Real.
Na época, Bolsonaro fez várias manifestações confrontativas ao governo, dizendo que o presidente "não era homem" e chamando o então ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, de "Bozo Ricupero", pois estaria fazendo "papel de palhaço ao dizer que as medidas protegem salários".
(Fonte: Portal F5)
Este fato ocorrido em 1993 contrasta com uma das principais plataformas de Bolsonaro: colocar o sistema do voto eletrônico sob suspeita. As críticas feitas pelo presidente contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vêm ocorrendo pelo menos desde outubro de 2018, quando ele foi para o segundo turno contra o candidato Fernando Haddad, do PT.
Em 14 de julho, o Ministério de Defesa sugeriu que as eleições de 2022 tivessem um sistema de votação paralela em cédulas de papel, no intuito de testar a confiabilidade do sistema eletrônico. Mas não colou: a fala de Bolsonaro ocorrida no dia 18 de julho para embaixadores estrangeiros, criticando o TSE, o Supremo Tribunal Federal (STF) e a transparência do pleito, foi imediatamente posta sob descrença.
As urnas eletrônica começaram a ser instaladas no Brasil justamente em 1994, em uma experiência feita em Florianópolis e que envolveu 1880 eleitores. Elas foram oficialmente implementadas em 1996, com a participação de 57 municípios. Em 2000, todos os eleitores do Brasil votaram assim e o sistema impresso foi extinto.