Ciência
05/09/2022 às 13:00•2 min de leitura
A história da França é rica em acontecimentos que marcaram o curso da humanidade e muitos desses eventos foram marcados pela violência, mostrando o quanto a instabilidade era uma ameaça que se revelava de diferentes formas. Não era raro que diversos movimentos saíssem de sua própria proporção, evidenciando a luta pela manutenção do poder por grupos específicos.
Um dos episódios que marcou a história foi o Massacre de São Bartolomeu, ocorrido em 1572, há 450 anos. O cenário, aparentemente, não se encaminhava para um desfecho tão dramático. A Igreja Católica ainda tinha plenos poderes, mas se via ameaçada pela Reforma Religiosa. O avanço de outras religiões gerava embates, exigindo uma análise mais aprofundada do contexto em que aquele período estava inserido.
(Fonte: Wikimedia)
Tanto a emergência do protestantismo luterano, que ganhou maior peso com o movimento liderado por Martinho Lutero, quanto do Calvinismo, uma outra vertente protestante, ameaçavam o domínio católico no continente europeu. João Calvino, figura de maior destaque, foi um dos responsáveis por promover a popularização de seus valores em diversos países.
Na Inglaterra, os protestantes eram representados pelos puritanos; na Escócia, pelos presbiterianos; na Holanda, pelos reformados. Já na França, os huguenotes eram o grupo que levava os ensinamentos adiante, sendo a maioria deles calvinista. A ideia da predestinação, e mesmo de uma visão de que o trabalho era um caminho para a riqueza, se mostravam como uma forma de pensar divergente do catolicismo.
A legitimação do lucro, arduamente criticada, e mesmo o relativo fracasso da Igreja Católica em atender às necessidades dos fiéis, possibilitaram esse movimento de revolução espiritual, configurando-se como um dos marcos do final da era feudal na transição para o capitalismo.
No episódio do Massacre de São Bartolomeu, no entanto, é importante lembrar que foi a anuência do poder real que determinou o ataque, mostrando que nem mesmo o Édito de Saint-Germain — assinado por Catarina de Médici em 1562, que oferecia certa trégua aos calvinistas — foi o bastante para impedir um novo episódio na perseguição religiosa contra os huguenotes.
O Massacre de São Bartolomeu, por Fraçois Dubois. (Fonte: Wikimedia)
O ataque, realizado na madrugada de 24 de agosto, dia de São Bartolomeu, foi brutal. Há hipóteses que, inclusive, apontam Catarina de Médici como a figura que instigou o episódio, começando pelo ataque coordenado. Gaspard de Coligny, um dos líderes protestantes, foi o primeiro alvo, o que representou uma ameaça.
O Rei Carlos IX da França, em seguida, teria autorizado o ataque massivo. Entre as vítimas, não havia apenas calvinistas, mas pessoas assassinadas sem qualquer distinção e chance de defesa, incluindo crianças, e indo muito além de uma perseguição que se espalhou por várias províncias francesas. O número de mortos não é totalmente definido, podendo estar entre 5 mil e 30 mil mortos conforme a fonte.
O dia ficou marcado não apenas por tingir de vermelho as casas, as ruas de Paris e seus rios, chegando a impossibilitar o consumo de água ou a pesca e tornar algumas áreas insalubres, mas por evidenciar o quão longe quem detinha o poder estava disposto a ir para frear o avanço de tudo aquilo que podia ser considerado uma ameaça, ainda que tivesse apenas uma suposta revolução ocorrendo.
O dia do massacre, por sua vez, passou ser o dia de São Bartolomeu, que promoveu grandes esforços para promover a fé cristã, mas que sofreu uma morte violenta. Após o episódio, o calvinismo perdeu parte de sua força na França. No final das contas, tanto a reativação da Inquisição e mesmo as guerras de religião não evitaram o desgaste do poder papal.
O maior estímulo aos ideais capitalistas, entretanto, continuou. Apesar do cenário instável, o absolutismo se consolidou como uma forma de poder que estimulava o mercantilismo e buscava o apoio da burguesia, a quem concedia favores; e a nobreza, a quem atraía buscando obter benefícios e controlar.