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24/11/2022 às 09:00•2 min de leitura
Falar do que levou o Parthenon de Calton Hill, o Monumento Nacional da Escócia, popularmente conhecido como desgraça da Escócia e por também outros nomes infames, como "loucura" ou "vergonha" –, a ganhar esses tipos de alcunhas ao longo do tempo é fazer uma viagem fascinante em meio a lutas políticas, sociais e estéticas.
Tudo começou em meados de 1815, quando foi proposto que erguessem um monumento em homenagem aos mortos das Guerras Napoleônicas, compreendidas entre 1803 e 1815, em Londres. Rapidamente, várias propostas surgiram para que monumentos semelhantes fossem construídos em outras cidades, como Dublin e Edimburgo, como uma forma de acessibilidade para aqueles que não pudessem chegar à capital.
A ideia do Monumento Nacional foi sugerida pela Highland Society of Scotland no ano seguinte, também como uma forma de promover os interesses escoceses no cenário britânico.
(Fonte: The Dots/Reprodução)
O arquiteto escocês Archibald Elliot apresentou um plano para o monumento, que consistia em uma igreja em estilo panteão (templo romano dedicado aos deuses), pensando em uma forma esférica, ideal para monumentos comemorativos. No entanto, os críticos afirmaram que uma igreja nesse estilo não seria inclusiva, pois celebrava o mérito militar acima das conquistas intelectuais que um partenon (templo grego), por exemplo, proposto por Robertson/Lord Elgin, poderia celebrar.
O Partenon de Elgin foi escolhido como resultado da ideia de que Edimburgo era a Atenas do Norte, apoiada pelas realizações intelectuais do Iluminismo escocês, que se estendeu até às semelhanças geográficas entre a antiga Atenas e a moderna Edimburgo, como sua proximidade com o mar e a posição dominante de suas colinas.
(Fonte: Edinburgh Live/Reprodução)
Após a idealização do projeto, o monumento começou a ser construído em janeiro de 1822 com um orçamento estimado de 42 mil libras, que deveria vir por doações. Seis meses depois, eles não haviam conseguido alcançar nem 16 mil libras, mas continuaram porque, uma vez que o Partenon foi planejado para incluir catacumbas, imaginavam que a venda imediata desses espaços funerários compensaria o rombo no orçamento.
Com a visita do rei George IV naquele ano, esperava-se o entusiasmo das pessoas pelo monumento aumentaria, mas a passagem do monarca não criou relevância alguma. Ainda assim, a construção seguiu com mão de obra e peças da mais alta qualidade. Foram necessários 12 cavalos e 70 homens para mover algumas das maiores pedras morro acima, e foi essa exigência física e monetária que causou a paralisação das obras em 1829 pela falta de recursos. A essa altura, apenas uma pequena parte do empreendimento estava concluída – era o início do fracasso.
(Fonte: EWH/Reprodução)
Desde o princípio, o governo deixou claro que não haveria alocação de financiamento público para a construção do empreendimento, sendo assim, o Comitê do Monumento Nacional propôs uma igreja nacional como monumento escocês com o objetivo de atrair doações por meio da Lei da Igreja de 1818, partindo para a criação do empreendimento sem esperar pela captação do valor.
O fracasso do monumento não foi apenas culpa da má gestão financeira do governo, mas também da mudança estética ocorrida na Grã-Bretanha após as Guerras Napoleônicas, em que o renascimento grego (inspirado na antiguidade clássica) caiu em desuso, com muitos escoceses se voltando para seu legado medieval em busca de uma expressão autêntica de identidade cultural e com a arquitetura clássica escocesa se tornando um símbolo do poderio imperial inglês.
Com isso, o Partenon perdeu relevância, apoio financeiro e significado. Antes projetado para unir a nação, o monumento era divisivo e até mesmo visto como "não escocês" por muitas pessoas. Assim, o Monumento Nacional se tornou a "desgraça da Escócia", resistindo ao tempo como se obrigasse os habitantes a aceitá-lo, até que se tornasse o elemento crucial da paisagem de Calton Hill como é hoje.