Ciência
19/12/2022 às 09:00•2 min de leitura
Um estudo recente feito sobre a genética dos judeus asquenazes, que viveram na Alemanha medieval, relevou que esse grupo tinha mais diversidade genética há 600 anos do que hoje em dia. A descoberta reafirma um estudo recente sobre a existência de um "gargalo genético" dessa população antes da Idade Média.
Antigamente, as leis religiosas proibiam qualquer tipo de pesquisa sobre cadáveres judeus. No entanto, esse novo estudo trabalhou em conjunto com uma comunidade judaica moderna da região para encontrar uma solução para o caso. Dessa forma, foi possível estudar o DNA secular em dentes desenterrados em sepultamentos recuperados nas escavações de Erfurt, uma cidade no centro da Alemanha.
(Fonte: Escritório do Estado da Turíngia para Gestão do Patrimônio e Arqueologia/Ronny Krause)
Em entrevista à Live Science, a geneticista populacional da Universidade Hebraica de Jerusalém, Shai Carmi, explicou que os dentes não possuem o mesmo significado religioso que outros restos humanos para o judaísmo. Dento da lei judaica, o resto do corpo precisa ser enterrado novamente e não pode ser destruído depois que for descoberto por arqueólogos, mas o mesmo não vale para os dentes.
No entanto, a solução alternativa até agora só se aplica para o estado alemão da Turíngia, onde existiam grandes populações de judeus. Carmi, porém, espera que as novas descobertas abram portas para que estudos genéticos de antigas populações judaicas possam acontecem em outros lugares no mundo.
O cemitério judaico de Erfurt foi usado pela população medieval desde o final do século XI até o ano de 1454, quando os judeus foram expulsos da cidade. Essa região era lar de uma próspera comunidade judaica, que sofreu um massacre brutal em 1349 — o qual matou mais de 100 judeus acusados injustamente de ter causado a Peste Negra.
(Fonte: Shutterstock)
Em 1454, um celeiro foi construído no local do cemitério judeu. Por conta disso, a maioria dos corpos enterrados ali só foram ser redescobertos em 2013, quando 47 sepulturas judaicas foram encontradas em uma escavação arqueológica antes da transformação do lugar em um estacionamento de vários andares.
Em 2021, esses restos mortais foram enterrados em um cemitério do século XIX usado pela comunidade judaica local. Antes desse enterro, os pesquisadores conseguiram coletar o DNA antigo dos dentes de 33 dessas pessoas, mostrando que esses indivíduos tinham composições genéticas muito semelhantes aos judeus asquenazes modernos que vivem na Europa e nos Estados Unidos.
Os cientistas acreditam que os ancestrais dos judeus asquenazes foram forçados a migrar da Itália para a Renânia, onde hoje é a Alemanha, e depois para a Europa Oriental durante o início do período medieval. Atualmente, cerca de metade dos judeus que se identificam como asquenazes também são descendentes de judeus sefarditas — que moravam no que hoje são Portugal e Espanha.
Na visão dos pesquisadores, o chamado "gargalo genético" que diminui a diversidade de DNA entre os asquenazes provavelmente ocorreu há cerca de 1 mil anos, quando essas primeiras comunidades judaicas foram estabelecidas e os membros desse grupo só podiam se relacionar entre si.