Ciência
13/06/2023 às 13:00•3 min de leitura
Em setembro de 2020, a Claims Conference divulgou uma pesquisa feita nos 50 estados dos EUA sobre o conhecimento a respeito do Holocausto. Entre adultos com menos de 40 anos, 1 em cada 10 entrevistados não se lembravam de já ter ouvido a palavra "holocausto" antes, tampouco conhecia sobre fatos básicos do genocídio.
Quando Adolf Hitler invadiu a Polônia em 1939, dando início ao seu Fall Weiss, o Holocausto começava como um plano tático-militar, implementado em larga escala por meio do estabelecimento de campos de concentração. Até 1945, mais de 6 milhões de judeus foram assassinados em 40 mil guetos e campos, em um dos maiores genocídios ideológicos da História.
Mesmo assim, mais da metade dos entrevistados achava que o número de mortos era inferior a 2 milhões. Ninguém soube citar um campo de concentração, apesar da quantidade de filmes e livros sobre o assunto.
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“A lição mais importante é que não podemos perder mais tempo”, disse Greg Schneider, vice-presidente executivo da Conferência sobre Reivindicações Materiais Judaicas contra a Alemanha, responsável por encomendar o estudo. “Se deixarmos essa tendência continuar por outra geração, as lições cruciais dessa parte terrível da história podem ser perdidas”.
Mas esse não é o único problema. A falta de informação sobre o Holocausto e o nazismo, não impediu que mitos criados em propagandas políticas prevalecessem ao longo do tempo, principalmente nos EUA.
Esse são os 2 mitos mais famosos sobre o nazismo.
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Essa é uma narrativa muito difundida pelos defensores do controle de armas nos EUA, que alegam que o Holocausto não teria acontecido se os judeus estivessem armados. “Acho que a probabilidade de Hitler ser capaz de realizar seus objetivos teria diminuído muito se o povo estivesse armado”, disse Ben Carson, ex-secretário do Departamento de Habilitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA, em 2015.
É, no mínimo, apavorante que um neurocirurgião, psicólogo e professor como Carson dissemine uma ideia tão equivocada para milhares de pessoas sobre o que foi o genocídio judeu. Para piorar, alguns de seus argumentos supõem que, como a Alemanha tinha um registro de armas, os soldados nazistas sabiam exatamente quem prender.
A posse de armas foi proibida logo após a Primeira Guerra Mundial na Alemanha, mas em 1928, o país aprovou a Lei de Armas de Fogo e Munições, que afrouxou os regulamentos sobre as armas. Ainda assim, eram necessárias licenças e todas as novas compras de armas deveriam ser registradas. Contudo, muitos alemães, inclusive os cidadãos judeus, apenas mantiveram suas armas da Primeira Guerra Mundial, que não foram registradas.
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Quando os nazistas ascenderam ao poder, eles tentaram despojar judeus, comunistas, líderes sindicais e outros que consideraram inimigos de suas armas com a ajuda do registro – que era tão incompleto que muitos mantiveram suas armas até o fim de 1938. Foi então que Hitler desregulamentou ainda mais as armas com a Lei Alemã de Armas, que isentava os membros do Partido Nazista da maioria dos regulamentos e reduzia a idade legal para possuir uma arma.
A lei de 1938 privou os cidadãos judeus de suas armas, portanto, mesmo que eles segurassem as empunhassem contra os soldados da SS, alguns rifles não seriam páreos para um exército inteiro apontando armas potentes de volta.
Vale ressaltar que, naquela época, havia apenas 214 mil judeus restantes na Alemanha, ou seja, é insano imaginar que um número tão pequeno de judeus poderia ser páreo para os milhares de adeptos ao nazismo.
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Existe a narrativa de que os nazistas se tornaram populares porque salvaram da lama a economia alemã. Mas a verdade é que a economia de Hitler foi construída sobre mentiras e planejamentos desastrosos a curto prazo.
Tudo foi manipulado. A famosa taxa de desemprego de 0,9% em 1939 era impressionante, principalmente porque estava em 34% quando o partido assumiu o poder. Eles só esqueceram de contar alguns grupos, como judeus, socialistas, pacifistas e todos os tipos de minorias apagadas, cujos empregos foram dados a alemães "puros". Além disso, havia também o 1,4 milhão de homens recrutados para o serviço militar.
Nem os considerados "desejáveis" escaparam das políticas. O salário dos fazendeiros, por exemplo, aumentou, mas, graças à Lei das Fazendas Hereditárias de 1933, os proprietários foram confinados para sempre em suas terras. Se você nascesse em uma fazenda, os nazistas queriam que morressem nela, sem jamais poder vendê-la.
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Apesar do aumento geral nos salários, os preços dos alimentos subiram junto, causando uma crise nutricional no país. Uma vez que o foco da economia estava no rearmamento, a falta de produtos básicos do consumidor fez os gatos caírem de 71% da economia em 1929 para 59% em 1938. O padrão de vida em 1939 na Alemanha era metade daquele experimentado nos EUA, e um terço menor do que no Reino Unido.
A saída de produtos do país sempre foi uma prioridade para os nazistas. Os sindicatos foram forçados a entrar na Frente Trabalhista Alemã, que teve um aumento de 15% nas horas de trabalho, queda nos salários, aumento de acidentes industriais e listas de preteridos para quem questionasse as condições.
Grande parte do "milagre econômico nazista" aconteceu graças aos campos de trabalho forçado que existiam bem antes do início da guerra, encobertos pelo Reich sob a desculpa de como ofereciam aos prisioneiros a "dignidade do trabalho".
Sendo assim, a economia nazista já estava desmoronando ainda em 1939, quando ascenderam completamente ao poder. Já em 1941, quando eles não conseguiram pilhar aço e petróleo suficientes dos russos, aquele foi o fim.