Ciência
02/05/2023 às 08:00•3 min de leitura
De outubro de 1940 até maio de 1943, o Gueto de Varsóvia, na Polônia, serviu como um grande cativeiro a céu aberto. Lá, os judeus foram mantidos pelo exército da SS de Adolf Hitler para que fossem submetidos à fome, ao trabalho forçado, doenças mortais e execução sistemática.
Estima-se que cerca de 400 mil judeus foram selados dentro de 2,4% do território da cidade, sem acesso à saúde ou à higiene adequada. Por conta das condições sanitárias e ao regime de massacre, mais de 80 mil pessoas morreram até julho de 1942, quando começaram a ser deportados para encontrarem seu fim nos campos de concentração.
Ao longo da Segunda Guerra Mundial, o Terceiro Reich estabeleceu pelo menos mil guetos ao território da Polônia ocupada e anexada pelos alemães. Para administrá-los, os nazistas criaram os Judenrat, ou Conselhos Judaicos, considerada a polícia do gueto, que eram os próprios judeus, destinados a punir, torturar e até matar os seus semelhantes.
(Fonte: Jewish Chronicle/Heritage Images/Getty Images)
Essa certamente foi a característica mais sadicamente inteligente do nazismo. A SS, a polícia do Estado, foi uma tropa constituída por homens de elite, todos selecionados com base na pureza racial e na fidelidade incondicional ao Partido Nazista. Apesar de serem muitos, eles não eram o suficiente para dar conta de toda a estrutura do Holocausto. Além disso, eles estavam em uma posição de muito prestígio para se submeterem a tarefas básicas.
Por isso, durante a etapa inicial do Holocausto na Alemanha, existiram os Sonderkommandos no campo de concentração de Sobibor, que eram os trabalhadores escravos judeus responsáveis pela tarefa de remover cadáveres gaseados dos seus semelhantes das câmaras, esfregar sangue e excrementos dos torturados, cremas corpos, separar roupas, bagagens e outros vários tipos de obrigações. No final, eles acabaram mortos também, mas isso fazia parte do processo de tortura nazista para quebrar a identidade e humanidade dos judeus.
Nos guetos espalhados pela Polônia, a começar pelo de Varsóvia, não foi nada diferente. Os conselhos judaicos montados pelos alemães serviam como fiscais e um braço da polícia nazista dos guetos, e foi composto por judeus residentes dessas áreas que foram obrigados a cumprir ordens dos nazistas divulgando informações sobre seus semelhantes.
(Fonte: United States Holocaust Memorial Museum/Reprodução)
Eles tiveram que entregar seus próprios amigos, familiares e vizinhos para que fossem exterminados nas imediações ou enviados para os campos de extermínio. Qualquer um que se recusasse a cumprir as ordens era assassinado por insubordinação.
Ser escalado para se tornar um membro desses conselhos judaicos era como colocar uma corda no próprio pescoço por tempo indeterminado, pois não só os colocava na mira dos próximos a serem dizimados, como também prolongava a sensação. Por isso eles tiveram que andar em uma corda bamba quase impossível, onde foram odiados tanto pelos alemães quanto pelo próprio povo, que os via como traidores e colaboradores.
(Fonte: United States Holocaust Memorial Museum/Reprodução)
Tomasz (Toivi) Blatt, um dos prisioneiros que escapou durante a fuga de Sobibor e viveu como mensageiro no subsolo polonês até o fim da guerra, disse que os militares nazistas chegavam pela manhã nos guetos e informavam ao conselho judaico para entregar 500 ou 200 homens. Se não fossem capazes de fazer isso, eles iam de casa em casa, batendo, atirando e matando quem vissem pela frente, até atingir a meta do dia.
Por isso, foi comum muitos membros terem tirado a própria vida ao ficar na corda bamba de entregar um dos seus ou não, como foi o caso de Adam Czerniakow, que se suicidou em 23 de julho de 1942, um dia após o início das deportações para os campos.
Esses conselhos tentaram fornecer serviços comunitários básicos para as populações judaicas guetizadas, porém nem sempre tiveram sucesso devido às políticas nazistas que precisavam seguir. Até hoje, os conselhos são um assunto controverso e espinhento na história do Holocausto para a comunidade judaica, que não aceita a cooperação dos seus próprios com o nazismo, acreditando que esses garantiriam a sobrevivência de pele menos uma parte da população.