Artes/cultura
26/09/2023 às 11:00•2 min de leitura
O ano era 1943 e a Europa estava tomada pela Segunda Guerra Mundial. No entanto, enquanto as batalhas aconteciam nas trincheiras, um país era covardemente atacado pela Alemanha: a Grécia. Um exemplo disso pode ser visto através do relato de Giannis Syngelakis à revista alemã Der Spiegel.
Syngelakis tinha apenas 7 anos quando os nazistas chegaram a Ano Viannos. Naquele período, ele e sua família se preparavam para celebrar a Exaltação da Santa Cruz, uma festa ortodoxa grega, quando soldados invadiram sua casa, na ilha grega de Creta, ordenando que seu pai e seu tio saíssem do recinto.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Conforme o relato produzido por Giannis, seu pai, seu avô e três de seus tios foram mortos pelos alemães no dia 14 de setembro de 1943. Outro tio teria sobrevivido ao se esconder debaixo de uma pilha de cadáveres. O ataque a Ano Viannos fez parte de uma campanha mais ampla de violência contra os cretenses durante a ocupação da Grécia pelo Eixo.
Os ataques, que ocorreram durante três dias em cerca de 20 aldeias nas províncias de Viannos e Ierapetra, resultaram na morte de 500 pessoas. Esse é um dos maiores e menos conhecidos exemplos de violência nazista contra civis durante a Segunda Guerra Mundial. Outros golpes similares aconteceram em outros lugares na Europa, como Lídice, Checoslováquia e França.
O ataque dos alemães a não-combatentes parecia uma forte retaliação aos ataques sofridos por membros da resistência aliada ou de guerrilheiros, o que resultou na destruição de cidades e aldeias inteiras no processo. Na União Soviética, por exemplo, os ataques indiscriminados pareciam exibir a crença dos nazis de que o povo eslavo era racialmente inferior.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Viannos passou longe de ser a única e última comunidade cretense devastada pelos nazistas. Em junho de 1941, logo após o Eixo ocupar a região, soldados alemães executaram até 60 civis do sexo masculino na vila de Kondomari em retaliação pela participação dos habitantes locais na Batalha de Creta.
Três meses depois dos massacres em Viannos, os alemães mataram mais de 600 cretenses na região de Kalavryta, praticamente exterminando a população masculina local. Até mesmo em agosto de 1944, poucos meses antes da retirada das tropas alemães de Creta, o reinado de terror dos nazistas deu mais um exemplo de crueldade: generais ordenaram a morte de 164 civis em Kedros.
A ocupação da Grécia pelo Eixo terminou com a retirada da Alemanha do país em outubro daquele ano. Estima-se que cerca de 325 mil a 558 mil pessoas morreram ao longo desse processo. A maioria faleceu de fome, mas dezenas de milhares foram mortos por represálias. Os nazistas também assassinaram pelo menos 58 mil judeus gregos como parte do Holocausto.
Ao longo da última década, o governo grego pressionou a Alemanha a pagar reparações históricas pelos seus crimes de guerra, entre eles os massacres de Viannos e outros ataques de retaliação. Em 1960, a Alemanha concordou em pagar aproximadamente US$ 300 milhões às vítimas gregas do regime nazi. Porém, anos depois de todos os acontecimentos, a quantia parece apenas uma fração da reparação correta pelos momentos agonizantes vivenciados naquela região no passado.