Corte de boleta: por que os argentinos têm preguiça de votar?

24/10/2023 às 09:002 min de leitura

No domingo (22), enquanto as imagens das eleições argentinas eram divulgadas nas mídias sociais, um fato chamou a atenção dos brasileiros: as cédulas de votação. Em forma de encartes de papel dobráveis, as listas são encabeçadas pelo candidato a presidente, mas estampam também os nomes dos postulantes a outros cargos em disputa, que fazem parte da mesma aliança.

Mas isso não significa que o voto seja vinculado. Se o eleitor preferir votar em candidatos de outras coalizões, ele tem que usar uma tesoura para recortar os nomes desejados em outras pilhas de células, colocar tudo em um envelope e inserir na urna. No caso de voto apenas nos candidatos de uma única aliança, basta dobrar o encarte e colocar na urna.

Nas "elecciones generales" de domingo, os argentinos votaram para eleger, além do presidente, também deputados, senadores, governadores (nas províncias de Buenos Aires e Entre Rios) e prefeito (em Buenos Aires). A forma de votar faz com que, além do DNI, emitido pelo Registro Nacional de las Personas, o eleitor leve também uma tesoura às mesas de votación. 

Como funciona o "corte de boleta"?

Em uma postagem na rede social X com mais de 3,2 milhões de visualizações, o colunista da GloboNews, Ariel Palacios, explica como se vota em nosso país vizinho: "Tem que levar uma tesoura, cortar de uma forma muito bem-cortada, senão podem anular seu voto. [Em seguida] Vai na outra pilha, pega [a outra cédula], corta na linha pontilhada... Isso se chama corte de boleta (a cédula eleitoral)".

O sistema, que pode ser considerado arcaico quando comparado à nossa urna eletrônica, tem um impacto direto no resultado das eleições. Como as pessoas não têm, segundo Palácios, muita paciência para ficar recortando cédulas, elas preferem pegar o encarte inteiro, dobrar e enfiar na urna, o que implica em uma maioria parlamentar para o presidente eleito. 

Desta vez, no entanto, a situação se inverteu. O candidato Sergio Massa foi o mais votado no primeiro turno das eleições presidenciais, mas seu partido, o Unión por la Patria, perdeu dez assentos na Câmara dos Deputados. Já o segundo mais votado na eleição presidencial, Javier Milei, viu seu partido, La Libertad Avanza conquistar 34 novas cadeiras na câmara e oito no senado. "Isso complica mais o esquema político do próximo governo", como previu Palácios.

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