Esportes
15/02/2024 às 08:00•2 min de leitura
Você já ouviu falar nas "Schluckbildchen"? Esse era o nome dado para o peculiar gênero de gravuras da era barroca que pareciam com selos postais, apresentadas em fileiras repetidas de pequenas imagens, mas que eram feitas para serem cortadas e comidas. Porém, isso não quer dizer que elas eram exatamente comestíveis: os poucos exemplares ainda existentes foram feitos com tinta normal em papel normal.
Contudo, segundo historiadores, elas não foram feitas para serem deliciosas. As Schluckbildchen, ou "engolir imagens" em alemão, eram como pílulas movidas pela religião. Isso quer dizer que as pequenas gravuras que representavam imagens de Virgem Maria, Cristo na Cruz ou santos famosos, tinham como objetivo entrar no corpo dos devotos e fortalecê-los por dentro.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Por volta de 1600, as gravuras "comestíveis" podiam ser compradas em locais de peregrinação, junto com uma variedade estonteante de outras mercadorias. No final do período medieval, a peregrinação tornou-se um grande negócio e, naquela época, os visitantes de um lugar específico queriam levar algo de recordação.
Mas como pode uma imagem preservar a sacralidade de um local? Um exemplo disso é a Virgem de Dinkelsbühl, uma pintura famosa por produzir milagres de cura. Em 1729, ela foi copiada num cartaz com instruções que instruía os espectadores a cortá-la em tiras, mergulhá-las em água e beber o resultado como uma poção restauradora.
Isso não era exatamente uma Schluckbildchen, mas a teoria por trás era a mesma. Nesse sentido, a cópia não seria apenas uma imitação barata da original, mas também carregaria sua essência. Assim, criou-se uma grande tradição pelo fato de que essas imagens poderosas poderiam ser replicadas inúmeras vezes e abençoar o maior número de pessoas possíveis.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Consumir o sagrado não é exatamente algo sem precedentes na religião. No caso da Eucaristia, por exemplo, a Hóstia de Comunhão é um objeto produzido em massa que, no entanto, torna-se um símbolo de benção e limpeza, muito parecido com o que as imagens impressas de um santo deveriam representar.
De acordo com pesquisadores, as Schluckbildchen poderiam ter funcionado como uma espécie de espaço reservado para a Eucaristia. Antes da Reforma Protestante, o acesso à Comunhão era bastante restrito para a população média, o que significa que pessoas que não faziam parte da nobreza só poderiam ingerir a Hóstia apenas uma vez por ano — na época de Páscoa.
Privados da Eucaristia, os plebeus procuraram outras formas de ter contato íntimo com o Divino, desenvolvendo um amuleto comestível impresso que foi replicado em inúmeras comunidades. Porém, existem pouquíssimos resquícios de Schluckbildchen que sobreviveram ao tempo. Logo, essa tradição faz parte de uma cultura oral que não preserva, pelo menos não na escrita ou em fontes de estudo, suas origens e formas de difusão.
Sendo assim, a história completa das Schluckbildchen será para sempre um verdadeiro mistério para a humanidade, perdida pela devastação do tempo e também pelos estômagos em busca de uma conexão maior com tudo que é sagrado.