Artes/cultura
11/02/2024 às 07:00•2 min de leitura
Como todo início de ano, recentemente aconteceu mais uma edição do Festival da Minhoca do Gelo de Cordova, uma pequena cidade de 2,3 mil habitantes do estado do Alasca, nos EUA. Buscada por pescadores e turistas, a comunidade celebra anualmente uma das criaturas mais misteriosas do mundo: a minhoca do gelo.
Parecidas com suas irmãs de terra, essas minhocas (Mesenchytraeus solifugus) passam a maior parte do seu dia dentro do interior frio e escuro das geleiras, explica à Smithsonian Magazine o pesquisador de ecologia da Universidade Estadual de Utah, Scott Hotaling. Mas, elas saem para se alimentar por volta das 16h, provavelmente de algas e bactérias.
A saída dessas minhocas pretas, com cerca de 2,5 centímetros de comprimento, é um espetáculo fascinante que os cientistas não conseguem explicar. Elas saem aos milhões. Com uma média de até 50 minhocas por metro quadrados, torna-se impossível caminhar pela paisagem gelada sem pisar nelas.
Passando suas vidas enterradas no gelo ou na neve, é natural que esses bichinhos sejam desconhecidos até mesmo pelas pessoas que moram nas regiões de seu habitat. “Achamos que elas agem como minhocas em um balde de compostagem”, afirma Hotaling, ou seja, saem simplesmente devorando tudo o que encontram pela frente.
O segredo da sobrevivência das M. solifugus é que, dentro de uma geleira, a temperatura nunca fica mais baixa do que o zero grau Celsius. Isso significa que a neve e o gelo são isolantes tão eficientes que, no interior da camada de gelo, a temperatura fica sempre próxima do ponto de congelamento.
Daniel Shain, biólogo da Universidade Rutgers, nos EUA, explica que as minhocas do gelo têm um componente mais longo em sua molécula de armazenamento de energia nas mitocôndrias celulares, a chamada trifosfato de adenosina (ATP). Isso faz com que, ao contrário da maioria dos organismos vivos, em que o frio retarda o metabolismo, nas minhocas do Alasca, quanto maior o frio, mais energia elas produzem.
(Fonte: @baby_iceworm/Instagram/Reprodução)
Em um mês de fevereiro típico em Cordova, a noite dura 16 horas a cada dia. Mesmo assim, o sol aparece apenas entre nuvens. Chuva de ventos ocorrem às vezes por semanas a fio.
Em 1961, enquanto faziam a única coisa que havia para fazer nessa época do ano — beber no bar local — um grupo de rapazes decidiu fazer um festival. Depois de vários goles, eles decidiram qual seria o mascote do evento: a minhoca do gelo.
Atualmente, o Festival da Minhoca do Gelo de Cordova continua sendo realizado no primeiro fim de semana de fevereiro e é recheado de atrações, como uma parada com uma minhoca de 30 metros de comprimento, parecida com um dragão chinês, além de torneios, fogos e a coroação da Miss Minhoca do Gelo.