Ciência
09/08/2024 às 20:00•3 min de leituraAtualizado em 09/08/2024 às 20:00
Muito do que conhecemos sobre o Direito vem dos filmes que Hollywood tem nos entregado durante muitas décadas. Afinal, a maioria de nós aprecia uma boa história de tribunal.
Mas é bem provável que você tenha uma imagem errada (e até negativa) dessa profissão por conta do que foi exibido nos filmes, mas também em séries como Law and Order. Para melhorar isso, advogados da vida real compartilham o que há de mais equivocado nas representações ficcionais.
Boa parte dos filmes fundamentados em julgamentos, como Questão de Honra ou As Duas Faces de um Crime, se passa, obviamente, dentro de tribunais. Acontece que, nessas obras, assistimos exclusivamente a histórias de advogados envolvidos com processos litigiosos. Dificilmente vemos advogados em situações mais burocráticas, como trabalhando com tributos e elaborando testamentos.
A razão para isso é dramática. "Quase todo mundo (nos filmes) é um litigante ou trabalha em disputas. O arco dramático é sempre sobre uma disputa. O que é realmente emocionante em assistir alguém dar conselhos sobre como criar um abrigo fiscal?", pontua a advogada Ashima Dayal ao Business Insider.
Na vida real, há muitos advogados que nunca chegam a atuar em casos de tribunal, que são uma exceção. "Acho que a representação do trabalho de um jovem advogado, no cinema e na televisão, sugere que é algum tipo de trabalho glamouroso", sugere Dayal. E isso significa apagar a parte mais "chata" (e comum) desse trabalho.
Na comédia Meu Primo Vinny, Joe Pesci vive um advogado meio falastrão e até truqueiro, que se dá bem justamente por sua lábia. Isso coincide com a ideia perpetuada em filmes e séries de que todos os advogados são ótimos de argumentação.
De acordo com Ashima Dayal, há uma grande diversidade de personalidades entre os advogados – tal como em qualquer outra profissão. "Eu diria que as pessoas que eu acho que são os melhores advogados são introspectivas, razoavelmente quietas, falam menos e ouvem mais. Não é isso que você vê. Você certamente não vê um advogado quieto e pensativo. O que normalmente aparece é um profissional bombástico e arrogante", comenta.
Aqui temos mais uma ideia negativa perpetuada pela ficção: a de que os advogados seriam capazes até de vender a própria mãe para não perder um caso. É só pensar, por exemplo, no personagem de Jim Carrey na comédia O Mentiroso, ou no trambiqueiro Saul Goodman na série Better Call Saul.
Esse é o ponto que mais incomoda nos advogados de verdade: a ideia de que estes profissionais estariam sempre enganando as pessoas. "Não gosto da maneira como eles retratam os advogados de defesa criminal como sendo antiéticos. Os advogados teoricamente devem ser tidos em maior consideração pelo homem comum como sendo éticos e honestos", afirma o defensor público Mitchell Kreiter.
Isso teria a ver com a ideia de que os advogados são hábeis em manipular a lei em seu favor. "A verdade é que advogados, e especificamente os bons, são capazes de articular a lei de uma forma que pode promover o bem público e mudar a política pública", arremata.
Pense nos filmes de tribunal a que você já assistiu. Neles, os casos são avaliados e decididos, no máximo, em poucos dias, certo? Mas isso não tem qualquer equivalência com a realidade jurídica.
Um julgamento envolve uma série de procedimentos que podem ser muito lentos, e a análise de um caso pode se estender por meses e até anos. Mas os filmes e as séries costumam simplificar os julgamentos, pois não mostram as etapas mais demoradas e burocráticas.
Obviamente, aqui se fala da ficção, e ninguém aguentaria ver todos os detalhes. Mas isso acabou contribuindo para a falsa impressão de que os julgamentos são muito mais rápidos do que são.