Ciência
05/12/2024 às 09:00•2 min de leituraAtualizado em 05/12/2024 às 09:00
Uma descoberta histórica agitou o mundo da arqueologia: um canhão de bronze de 500 anos, ligado à expedição do conquistador espanhol Francisco Vázquez de Coronado, foi encontrado nos restos de uma parede de adobe no sul do Arizona. Essa arma, considerada a mais antiga já localizada nos Estados Unidos continentais, fornece novas pistas sobre os passos da expedição espanhola em terras americanas durante o século 16.
Medindo 1,07 metro de comprimento e pesando cerca de 18 quilos, o canhão foi projetado para defesa e precisaria de duas pessoas para ser operado. Apesar disso, ele nunca foi usado, sugerindo que foi abandonado em meio à retirada dos espanhóis após um ataque liderado por uma tribo indígena local. Essa descoberta lança nova luz sobre a jornada de Coronado e as interações de seus homens com os povos nativos do sudoeste americano.
Francisco Vázquez de Coronado deixou o México em 1540, em busca das lendárias "Sete Cidades de Ouro". Com uma caravana de cerca de 2.500 pessoas, ele atravessou o sudoeste dos EUA, chegando até o atual Kansas antes de retornar ao México em 1542. No entanto, detalhes sobre o trajeto exato da expedição permaneciam envoltos em mistério devido à falta de evidências arqueológicas claras — até agora.
Deni Seymour, arqueóloga especializada na história indígena e espanhola do sudoeste americano, dedicou décadas para rastrear os passos de Coronado. Após analisar manuscritos antigos e explorar a região da Santa Cruz Valley, no Arizona, Seymour encontrou o que seria um dos assentamentos perdidos da expedição. Entre os vestígios, o canhão de bronze foi o achado mais impressionante, enterrado sob uma parede desmoronada.
“A descoberta desse canhão é significativa porque ele é o primeiro armamento associado à expedição de Coronado e pode ser o canhão mais antigo do continente”, explicaram os pesquisadores no estudo publicado na International Journal of Historical Archaeology.
A pista inicial veio de um detalhe menor, mas revelador: pregos de ferro datados do século 16 encontrados na área. A partir daí, a equipe de Seymour escavou o local até encontrar o canhão, que estava intacto, apesar de sua longa história. Ele foi provavelmente fabricado no México ou no Caribe, apresentando um design simples, sem os ornamentos típicos das armas espanholas da época.
O canhão fazia parte da defesa do assentamento San Geronimo III, fundado pela expedição no Arizona. No entanto, o ataque dos Sobaipuri, povo indígena local, forçou os espanhóis a uma retirada apressada, deixando para trás armas, potes de azeite e fragmentos de cerâmica europeia.
O motivo de o canhão nunca ter sido usado também foi revelado. Segundo os pesquisadores, ele estava posicionado em uma estrutura de adobe que desabou durante o ataque, impossibilitando seu uso antes da fuga dos espanhóis. “Esse desabamento parece ter sido o golpe final que levou ao abandono do canhão, onde permaneceu enterrado por quase 500 anos”, escreveram Seymour e seus colegas.
A descoberta não apenas preenche lacunas sobre a expedição de Coronado, mas também enriquece nosso entendimento sobre os encontros entre culturas europeias e indígenas na formação do que hoje conhecemos como os Estados Unidos.