Ciência
27/06/2024 às 18:00•3 min de leituraAtualizado em 27/06/2024 às 18:00
Em fevereiro de 2023, o governo de Riad, capital da Arábia Saudita, anunciou seu plano de construir uma cidade completa dentro de outra em um formato de cubo. Chamada de Mukaab, a estrutura será o suficiente para abrigar cerca de 350 mil pessoas sob uma infraestrutura extremamente tecnológica. Com isso, o empreendimento vai entrar para a lista dos projetos arquitetônicos mais megalomaníacos do Oriente Médio.
Lendo esse tipo de notícia, é normal que as pessoas se perguntem: por que os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita são países que investem em projetos ambiciosos de luxo que ganham manchetes pelo mundo todo? A maioria se equivoca ao acreditar que se trata apenas de ostentação – apesar de ter um pouco, sim –, mas, na verdade, são alternativas que os Estados do Golfo encontraram de diversificar sua riqueza, uma vez que o petróleo se tornou um produto cada vez mais difícil de colher devido às questões naturais.
Portanto, esses países facilitam zonas francas, os benefícios fiscais e as iniciativas de vistos dourados/residência para pessoas e empresas se mudarem para lá, como uma forma de diversificação da economia para investimento estrangeiro direto que vão os colocar na frente global. Com os megaprojetos, a estratégia dos Emirados Árabes Unidos (EAU), por exemplo, é aumentar a contribuição do turismo no PIB para quase US$ 300 milhões até 2031.
Mas os projetos megalomaníacos dos EAU nem sempre acertam, um exemplo disso é que Dubai gastou R$ 63 bilhões em ilhas artificiais luxuosas que se tornaram "o projeto mais inútil do mundo".
Em meados de 2003, Mohammed bin Rashid Al Maktoum, primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos, teve a ideia de desenvolver um arquipélago composto por quase 300 ilhas artificiais que recriariam a forma dos continentes do mapa-múndi. Dessa forma, permitiria que os compradores escolhessem uma ilha em forma de país ou região e, em seguida, construíssem suas propriedades de alto padrão.
Al Maktoum contratou a Creative Kingdom Dubai, líder em design arquitetônico, para desenvolver o projeto nomeado "O Mundo", cujo investimento inicial foi de US$ 12 bilhões, aproximadamente US$ 63 bilhões. Foram usados 321 milhões de metros cúbicos de areia e 386 milhões de toneladas de rocha para a confecção do arquipélago, que possui cerca de 8 quilômetros de área, com cada ilha a 100 metros de distância entre si. Aproximadamente 232 quilômetros de costa artificial foi criada.
A dragagem começou quatro meses depois que o xeque anunciou o empreendimento que esperava que o setor imobiliário fosse substituir, naquela época, a dependência econômica dos EAU do petróleo. Em janeiro de 2008, 60% das ilhas já haviam sido vendidas, 20 das quais foram compradas nos primeiros quatro meses de 2007.
Então veio a crise financeira de 2007-2008, em que os títulos lastreados em hipotecas vinculadas ao setor imobiliário americano, bem como uma vasta rede de derivativos, desabaram no mercado global. Apesar da rapidez que "O Mundo" foi desenvolvido, quando a recessão aconteceu, a última pedra havia acabado de ser colocada no quebra-mar do arquipélago, porém nenhuma ilha havia sido construída.
O portal Top Luxury foi categórico em declarar "O Mundo" como o megaprojeto mais inútil do planeta. Afinal, 21 anos após o início das obras, apenas algumas ilhas foram completamente construídas, e o arquipélago parece apenas pontos desertos e abandonados, muito diferente da intenção inicial.
"Nenhum dos planos traçados foi realizado ainda", descreveu o portal.
A Nakheel Properties, atual responsável pelo projeto, alegou que os planos permanecem em vigor, embora o progresso seja praticamente inexistente e as ilhas estejam entrando em colapso, visto que algumas já apresentam sinais de grave erosão. A empresa também admitiu que o projeto causou sérios danos aos ecossistemas marinhos, assim como a organização Greenpeace declarou que os recifes de coral locais foram seriamente afetados. Em defesa, a Nakheel disse que contratou biólogos marinhos para tentar mitigar os impactos e restaurar os recifes danificados.
Outros empreendimentos em Dubai continuam a atrair investimentos e turistas. Apesar de o futuro de "O Mundo" permanecer incerto, Dubai não recua – e faz sentido.
“Se há uma coisa que caracteriza Dubai é correr riscos”, disse o escritor Alastair Bonnet, em seu artigo ao City Monitor.