Artes/cultura
01/05/2024 às 08:00•2 min de leituraAtualizado em 01/05/2024 às 08:00
Você provavelmente conhece alguém que acredita ter tido todas as doenças possíveis ou, para piorar, está com algo debilitante e consegue até mesmo convencer que está com os sintomas. Essa situação tem nome: síndrome de Munchausen. Apesar de ser bastante comum nos consultórios, essa aparente doença não foi estudada mais a fundo até o início dos anos 1950.
O médico britânico Richard Asher assinou um artigo de jornal, em 1951, descrevendo essa condição como algo que “todo médico já viu, mas que pouco foi escrito”. Segundo Asher, os pacientes costumam se rebelar contra seus médicos e ignorar possíveis tratamentos, mas, mesmo assim, seguem acreditando na doença.
A síndrome de Munchausen, portanto, é uma condição psicológica na qual a pessoa finge estar doente ou jura que outra pessoa está – normalmente, uma criança. Mas se foi Asher que colocou um holofote sobre essa questão, por que ele não nomeia a síndrome?
Na medicina, isso é bem comum: síndrome de Beckwith Wiedemann, doença de Alzheimer, síndrome de Dravet, doença de Parkinson etc. Asher, porém, não queria seu nome associado a algo que ele considerava uma “pseudodoença de pessoas histéricas esquizofrênicas, masoquistas ou psicopatas”. Quem, então, era Munchausen?
Barão de Munchausen foi um nobre e soldado alemão que, entre outros feitos, voou sobre o rio Tâmisa em uma bala de canhão, lutou contra um crocodilo de 12 metros e até viajou à Lua! Na verdade, ele é personagem do livro As Aventuras do Barão de Munchausen, compilado de histórias publicadas em jornais londrinos, em 1785, do autor Rudolph Erich Raspe.
A narrativa fantasiosa, escrita em primeira pessoa, como se fosse um diário, chamou a atenção de Richard Asher. Por isso, o médico britânico sugeriu que a nova síndrome fosse batizada em homenagem a esse personagem tão icônico!
Mas de onde Raspe teria tirado inspiração para ele? Simples: do agricultor e militar alemão Karl Friedrich Hieronymus von Münchhausen. Como na época não se debatia questões de direitos autorais, o autor achou de bom tom aumentar histórias do Munchausen original enquanto o próprio ainda estava vivo – ele faleceu em 1797, aos 76 anos.
O verdadeiro barão de Munchausen, desde 1960, era um oficial aposentado que vivia uma vida pacata em Hanôver, no interior do país. Ele de fato era um contador de histórias que se tornou famoso na região por sua dramatização e animação ao narrar os fatos. Porém, ele nunca partia para o lado fantasioso ou inventava mentiras.
Por isso, ele odiou as histórias e o livro, mas era um “Zé Ninguém”, enquanto o autor Rudolph Raspe tinha fama e prestígio. Lutar contra ele seria difícil. Münchhausen tentou processar a editora alemã, que traduziu o livro, mas não deu em nada. O máximo obtido foi uma mudança pequena na grafia do nome do personagem.