
Ciência
26/05/2018 às 14:00•2 min de leitura
Você já imaginou acordar um dia com o sotaque de quem nasceu e viveu anos na França? Apesar de rara, existe a possiblidade de qualquer pessoa sofrer da síndrome do sotaque estrangeiro. Ela é causada por um dano cerebral, geralmente devido a um acidente vascular cerebral ou traumatismo craniano. Nós mesmos aqui no Mega já falamos de casos como esses algumas vezes; você pode ver mais aqui, aqui e aqui também.
A primeira descrição da síndrome foi feita pelo neurologista francês Pierre Marie, quando escreveu sobre um homem que, após sofrer um derrame, passou a falar com o sotaque de uma região francesa específica, bem diferente da sua forma original de se comunicar.
Já o primeiro caso documentado completamente ocorreu com uma mulher norueguesa, durante a Segunda Guerra Mundial. Ela se chamava Astrid e, após ser atingida por estilhaços durante um ataque aéreo, desenvolveu um sotaque que misturava alemão e francês.
Não foi a melhor época para se adquirir um sotaque alemão, e ela acabou sofrendo bastante no local onde vivia. As pessoas se recusavam a atendê-la nas lojas, e até amigos passaram a evitar sua companhia. A suspeita era de que, na verdade, ela tinha se tornado uma espiã alemã.
A síndrome pode se manifestar de duas formas. A mais conhecida — e citada nos exemplos acima — é chamada de neurogênica e se dá quando a pessoa sofre algum tipo de dano no cérebro. No entanto, existe também a possiblidade de se adquirir o sotaque sem qualquer lesão, e nesse caso a condição é chamada psicogênica. Foi registrado um caso em 2016, no qual a síndrome foi associada a desordens psíquicas. Por ter sua identificação feita recentemente, os cientistas sabem muito menos sobre essa versão.
De uma maneira técnica, o sotaque se caracteriza pela pronúncia de determinada língua, mas com alguns sons de outro idioma. Na síndrome o que ocorre é uma dificuldade na movimentação dos músculos necessários para a pronúncia das palavras, o que acaba aparentando outro sotaque. Por isso, quando a pessoa passa pela situação, não adquire um sotaque específico.
O ato de falar é algo bem complexo e envolve a movimentação fina de diversos músculos. Qualquer alteração mínima nesse delicado sistema causa alterações no sotaque, assim como quando uma pessoa bebe demais e começa a falar de forma mais arrastada, pois nesse caso o álcool está afetando o seu controle muscular.
Dependendo da causa, é possível tratar a síndrome. Um caso registrado foi o de um italiano que possuía um tumor no cérebro e começou a falar com sotaque inglês. Logo após a cirurgia, que retirou o tumor, ele voltou ao normal. Em outros casos, a pessoa perdeu o sotaque adquirido após alguns meses; em outros piores, teve que se adaptar e viver para sempre com os novos trejeitos.