Ciência
10/07/2020 às 06:14•4 min de leitura
Não é de hoje que a espécie humana se enfia em cavernas para obter minerais preciosos. Uma equipe de arqueólogos e mergulhadores descobriu uma mina de 10 mil a 12 mil anos atrás, debaixo das águas da península de Yucatán, no México.
Contudo, o que nossos antepassados indígenas buscavam naquela caverna não era ouro, diamantes ou outros metais que a gente valoriza hoje em dia. Eles mineravam ocre, um mineral vermelho que era muito utilizado pelas populações pré-históricas.
O ocre tinha uma variedade enorme de usos, dependendo do povo, desde atividades do dia a dia (como espantar mosquitos ou proteção solar), até ser usado em rituais ou como pigmento para pinturas rupestres.
Não se sabe exatamente para que os indígenas mexicanos mineravam o ocre por ali, mas os cientistas sabem que o material encontrado tinha grande quantidade de arsênio. Como esse elemento — embora hoje a gente saiba que é tóxico e deve ser manipulado com cuidado — é um eficiente repelente de insetos, essa é uma aposta segura.
O que impressiona, nessa descoberta, é como as minas se encontram preservadas, mesmo depois de milhares de anos.
"É uma cápsula do tempo submarina. É uma oportunidade rara observar algo com tamanha preservação", afirmou Brandi MacDonald, pesquisadora da Universidade do Missouri (Estados Unidos) que liderou a pesquisa, ao portal Live Science.
Nas cavernas, a equipe encontrou os locais de mineração quase intactos, com amostras de ocre, e até restos de fogueiras feitas pelos indígenas. Além disso, acharam pedras que eram usadas como ferramentas e pilhas de pedras usadas para localização nas cavernas. Sim, tudo de pedra, afinal nossos ancestrais não tinham outras ferramentas.
Sobre isso, inclusive, os mergulhadores que encontraram a caverna suspeitaram que as pedras estavam dispostas de uma maneira diferente do natural, mas não entenderam que elas eram usadas para mineração. Até porque eles não são arqueólogos, não é mesmo? O grupo, que se chama CINDAQ (Centro Investigador do Sistema Aquífero de Quintana Roo), se dedica há mais de duas décadas a preservar as cavernas submarinas desse estado, no leste do México.
Em 2017, eles descobriram as primeiras amostras de que havia algo diferente nas cavernas e foi aí que começou a parceria com os arqueólogos.
Pilha de pedras usada para localização (Fonte: CINDAQ/Reprodução)
Local de mineração de ocre (Fonte: CINDAQ/Reprodução)
Local de Mineração de Ocre (Fonte: CINDAQ/Reprodução)
Resquícios de fogueira (Fonte: CINDAQ/Reprodução)
Nem sempre as minas estiveram debaixo d'água. Até cerca de 8 mil anos atrás, o local era seco e nossos ancestrais podiam caminhar por ele. Porém, com o final da última era glacial, o nível dos mares aumentou e todas essas cavernas foram inundadas.
As minas estarem secas, contudo, não significa que minerar o ocre era fácil, já que os indígenas entravam em cavernas com centenas de metros de comprimento, contando apenas com pedras como ferramentas.
O tamanho das minas e a complexidade delas — ainda mais se pensarmos que elas são de 10 a 12 mil anos atrás — realmente impressionam. No site do CINDAQ é possível "passear" por vários modelos 3D das cavernas, como esse que o grupo publicou no Instagram, recentemente.