Mistérios
13/08/2020 às 15:00•4 min de leitura
Ao longo de décadas de conflitos bélicos, assim como os seres humanos, milhares de animais foram mortos devido a explosões, incêndios e outros tipos de armas usadas em combate. Como se isso já não fosse o suficiente, os animais ainda foram alvos de experimentos para a criação de armas químicas e biológicas, sendo testados e mortos de maneira indiscriminada.
Com início na Primeira Guerra Mundial, a União Soviética chegou a sacrificar 40 mil cães em um plano de combate chamado Antitanques, que tornava os animais verdadeiras bombas vivas. Quando a Segunda Guerra Mundial foi anunciada nos Estados Unidos, alguém teve uma ideia parecida só que muito mais ambiciosa e cruel.
(Fonte: International Times/Reprodução)
Em 7 de dezembro de 1941, o futuro presidente dos Estados Unidos, George H. W. Bush estava na Phillips Academy, em Massachusetts, quando ouviu a notícia de que o Pearl Harbor havia sido atacado pelos japoneses. Assim como muitos jovens norte-americanos, com 17 anos, Bush decidiu imediatamente se alistar na Marinha para poder servir durante a Segunda Guerra Mundial que começava.
A 3 horas de avião dali, no Novo México, um dentista e inventor chamado Lytle S. Adams estava de férias no sudoeste do estado, nas notórias Cavernas Carlsbad, quando ouviu a notícia do ataque pelo rádio. No mesmo momento, ele teve a ideia de ajudar o próprio país, só que, muito diferente do jovem Bush, o homem pensou em um plano de retaliação contra a nação inimiga.
Lytle estava em Carlsbad, um dos sistemas de cavernas naturais mais fascinantes da Terra e também lar de milhares de morcegos, então ele não poderia pensar em nada que não os envolvesse.
A ideia de Lytle era de bombardear massivamente as cidades japonesas com pequenas bombas amarradas nos corpos dos morcegos. Os animais, principalmente da família Molossidae (morcegos de cauda livre), são resistentes, pois podem viajar longas distâncias e são capazes de sobreviver em grandes altitudes, além de conseguirem voar carregando cargas maiores do que o próprio peso.
Dr. Lytle Adams (Fonte: History Collection/Reprodução)
O plano parecia ridículo, mas o homem estava convicto de sua eficácia e sabia como colocá-lo em prática. Ele passou a ter contatos internos no governo depois que havia chegado até Eleanor Roosevelt com o projeto de um avião que entregava correspondências sem precisar pousar.
Portanto, em 12 de janeiro de 1942, quando Lytle enviou o seu plano à Casa Branca, o arquivo possuía uma carta de recomendação do presidente Roosevelt, por isso foi direto para o Comitê Nacional de Defesa de Pesquisa — o departamento que desenvolveu o Projeto Manhattan.
A proposta do dentista foi encaminhada ao zoologista Donald Griffin, que era conhecido pelas suas pesquisas sobre o comportamento animal e as estratégias de ecolocalização usando morcegos. “A proposta parecia bizarra e visionária. Mas, se executada com competência, teria todas as chances de ser um sucesso”, teria revelado Griffin, animado com a ideia.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Depois que Griffin e outros agentes do Comitê estudaram o projeto mais a fundo, eles perceberam que havia muitas diretrizes viáveis, além de as apontadas por Lytle. Os morcegos voam à noite, alojam-se em locais isolados e escuros até o amanhecer, podem ser induzidos à hibernação, não precisam de manutenção ou muitos cuidados e, principalmente, são abundantes nos Estados Unidos.
Em março de 1943, após uma demonstração em Washington feita por Lytle com morcegos carregando o protótipo de uma bomba, a Força Aérea enviou uma carta ao Comitê intitulada “Testes de Métodos para Espalhar Incendiários”. O objetivo era determinar a viabilidade do uso de morcegos para lançar pequenas bombas incendiárias em alvos inimigos.
Com o envolvimento de militares, engenheiros e biólogos, o plano foi nomeado como Projeto Raio X e definido como ultrassecreto.
(Fonte: Rose Briccetti/Reprodução)
Os pesquisadores precisavam superar dois obstáculos fundamentais para a eficácia do projeto: morcegos não podiam ser treinados como cães, tampouco existiam bombas do tamanho deles. Equipes viajaram ao sudoeste do país para capturar milhares desses animais, que seriam presos em bandejas com cubos de gelo e resfriados em um refrigerador para hibernação, facilitando o manuseio durante os testes, o transporte e a prática do plano.
Instalados na Estação Aérea Naval de Moffet Field, em Sunnyvale (Califórnia, EUA), o desenvolvimento da bomba ficou a cargo do químico Dr. Louis Fieser. Ele construiu uma cápsula cheia de algodão-pólvora e querosene, com um conjunto de gatilhos cronometrados, que seria amarrada ao corpo dos morcegos com um fio. Assim, quando o animal fosse solto, a bomba penderia de seu corpo e o peso acionaria o gatilho. Depois disso, eles só precisavam roer o fio e soltá-las.
Morcego dentro do invólucro. (Fonte: Where is the Line/Reprodução)
Os morcegos hibernados então seriam alojados em um invólucro de bomba com 26 bandejas, cada uma contendo 40 morcegos, e liberados em um paraquedas a 5 mil pés sobre alguma cidade japonesa. Assim que acordassem, os morcegos voariam para os céus e dariam início ao bombardeio.
Campo Aéreo do Exército de Carlsbad. (Fonte: Mental Floss/Reprodução)
Em junho de 1943, durante um dos testes realizados com os morcegos-bomba, alguns animais errantes soltaram os explosivos sobre a base auxiliar do Campo Aéreo do Exército de Carlsbad, incendiando o local completamente. Em dezembro daquele ano, o projeto foi transferido para o Corpo de Fuzileiros Navais que, após 30 testes efetuados e US$ 2 milhões gastos, foi cancelado no início de 1944 por ordens do almirante Ernest J. King.
Há quem diga que o encerramento aconteceu porque os Estados Unidos quis focar os seus recursos financeiros e de inteligência no desenvolvimento final da bomba atômica, que não seria párea para os inimigos.
De qualquer forma, segundo o Dr. Fieser, cada morcego-bomba causava 3 mil incêndios por carga, em contraste aos 400 incêndios que uma bomba padrão provocava.
Fieser ainda insistia que os Estados Unidos teria vencido o Japão sem precisar do efeito atômico de uma bomba, causando estragos significativos em várias cidades japonesas com uma menor perda de vidas – e menor peso na consciência.