Artes/cultura
14/09/2020 às 12:00•2 min de leitura
Uma cratera de impacto quase sempre é sinônimo de destruição e extermínio. Um estudo de pesquisadores da Western University, publicado na revista Astrobiology, mostra que nem sempre é assim: se o choque de um meteoro massivo dizimou a vida na Terra, um evento anterior e similar pode tê-la impulsionado, ao trazer para o planeta os ingredientes necessários e, com o impacto, criar as condições ideais para que ela surgisse.
O estudo abre possibilidades não apenas para explicar a evolução da vida na Terra como para a busca de indícios na Lua e em Marte, onde as crateras de impacto não desapareceram por conta do movimento das placas tectônicas ou via intemperismo.
“É tipicamente destrutivo imaginar o que acontece quando rochas de um quilômetro atingem a Terra – é um evento de extinção como o que matou os dinossauros. Porém, se impacto é inicialmente destrutivo, também fornece os elementos para a vida, criando novos habitats para a vida”, disse em comunicado o cientista planetário da Western University e principal autor do estudo, Gordon Osinski.
Depois de arrefecido o ambiente de caos causado pela queda do meteorito, na bacia de impacto começam a se combinar água, calor, minerais e produtos químicos – sedimentos, nutrientes e até mesmo fontes hidrotermais surgidas com impacto criariam um habitat com energia e alimentos abundantes, fornecendo as condições ideias para a reprodução de micróbios.
“Eles essencialmente criam um oásis para a vida. Depois de bilhões de anos de erosão e outras atividades geológicas, pode ser impossível descobrir como a vida na Terra começou, mas as missões a Marte têm a possibilidade de achar oásis semelhantes enquanto procuram vestígios de vida”, disse o pesquisador.
Para produzir um ambiente com água e calor suficientes para o desenvolvimento da vida (além de rochas de impacto vítreas e porosas em cujo interior micro-organismos encontrariam abrigo para se multiplicar), a cratera de impacto deve ter cerca de cinco quilômetros de diâmetro. Para produzi-la, o corpo (cometas e asteroides conhecidos como condritos carbonáceos, onde se encontram material orgânico) deve ter ao menos 270 metros de largura.
Se na Terra um asteroide com essas especificações traria morte e destruição (e, por isso, as agências espaciais mantêm vigilância constante), em outros lugares pelo sistema solar eles são bem-vindos e avidamente esperados.
As missões espaciais em andamento têm em comum a tarefa de procurar sinais de vida na Lua e em Marte. O planeta vermelho foi no passado maciçamente bombardeado por asteroides, e suas bacias de impacto estão praticamente intactas – uma delas será o local de pouso do rover Perseverance, da NASA, que deve chegar em 18 de fevereiro de 2021.
“Em teoria, todos os habitats que discutimos podem estar presentes na cratera Jezero. Sabemos por dados coletados pelos orbitadores que existe material argiloso, que pode inclusive ter sido gerado pelo impacto do asteroide que a criou", explicou Osinski.
Em Marte, o pesquisador deduz que o “oásis gerador de vida” teria que ser uma cratera de ao menos dez quilômetros de diâmetro. O asteroide precisaria cair em uma área com gelo subterrâneo, fazendo surgir sistemas hidrotermais – a Jezero, com 49km de diâmetro e tendo abrigado um lago há 3,5 bilhões de anos, satisfaz com folga esses requisitos.
“Mesmo os menores impactos que observamos atualmente em Marte podem resultar na formação de habitats. Se a vida realmente se formaria, é outra questão”, conclui Osinski.
Se um meteoro dizimou os dinossauros, outro trouxe vida à Terra via TecMundo