Ciência
19/12/2020 às 04:00•2 min de leitura
Um novo estudo realizado pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, identificou o agente capaz de fazer com que carrapatos passem mais tempo se alimentando em pele humana. Segundo as pesquisas, a toxina da antiga bactéria Borrelia burgdorferi estaria ajudando os artrópodes a sobreviverem e transmitirem a doença de Lyme.
Há aproximadamente 40 milhões de anos, o carrapato-do-veado (Ixodes scapularis) desenvolveu uma enzima antibacteriana incrivelmente potente, derivada de uma antiga bactéria que se formou e evoluiu nas entranhas do animal.
Através do processo de “transferência horizontal”, alguns genes que transportavam as instruções para a formação da toxina foram passando entre as gerações, a medida que se fortaleciam e afetavam diversos outros organismos.
Os resultados da pesquisa apresentaram informações interessantes sobre a forma de atuação da substância no corpo do carrapato-do-veado, com impactos diretos em seu sistema digestivo e nos mecanismos de liberação de substâncias. De acordo com os biólogos, um efetor — parte terminal de um órgão capaz de ativar a secreção a partir do estímulo dos impulsos nervosos — antibacteriano domesticado (Dae2) por carrapatos desenvolveu especificidade ampliada.
A toxina Dae2, secretada no sistema digestivo do parasita enquanto ele se alimenta, foi capaz de matar os micróbios da pele dos mamíferos durante os testes, mas não conseguiu eliminar a Borrelia burgdorferi, responsável por transmitir a doença de Lyme a seres humanos. “Essas descobertas sugerem que os carrapatos resistem aos seus próprios patógenos enquanto toleram simbiontes”, disse Beth M. Hayes, do Departamento de Bioquímica e Biofísica da Universidade da Califórnia.
Dessa forma, as conclusões levam a crer que a presença do efetor evita que o carrapato seja atacado por comensais presentes na pele humana, já que os micróbios são eliminados durante o processo. A Dae2, então, seria um mecanismo de defesa particular de alguns grupos dos parasitas.
Durante os testes, os cientistas bloquearam a atuação da toxina para avaliar os resultados. Rapidamente, a criatura não resistiu tempo suficiente na pele humana e acabou morrendo. “O que é estável e harmonioso para os carrapatos é ruim para nós, e o que é estável e harmonioso para nossa pele é ruim para os carrapatos”, disse Seemay Chou, principal autor do trabalho.
O biólogo acredita que os estudos poderão levar a novas conclusões sobre o papel da toxina no organismo do predador e dos humanos, funcionando como regulador de diversas atividades entre os vetores.