Ciência
30/12/2020 às 11:00•2 min de leitura
Mais de 34 anos após o acidente nuclear da usina de Chernobyl, na cidade de Pripiat, na Ucrânia, uma faixa de terra num raio de 29 quilômetros permanece sem qualquer tipo de atividade humana: é a chamada Zona de Exclusão de Chernobyl (ZEC), que acabou se transformando em um refúgio para a vida selvagem.
Em um estudo, publicado no segundo semestre deste ano na revista Nature, um grupo de cientistas reanalisou os dados de campo referentes aos possíveis efeitos da radiação ionizante na presença de mamíferos observados na ZEC sob o conhecimento atualmente existente sobre relações radiológicas de dose-resposta.
Em consonância com um trabalho também recente realizado em outra usina acidentada, a de Fukushima no Japão, o artigo reviu os dados de um censo realizado em fevereiro de 2009 na ZEC, onde estes mesmos pesquisadores atuais usaram rastros na neve para estimar a abundância de 12 espécies de mamíferos, de ratos a javalis, em 161 locais dos 777 quilômetros quadrados do local.
Porém, na nova análise, foi usada uma estimativa das doses reais de radiação que os animais recebem em várias partes da zona, em vez da dose total utilizada anteriormente. Foram também analisados os componentes externos e internos da dose com base nas características morfológicas e ecológicas simplificadas dos mamíferos de interesse, e também as concentrações de radioisótopos dos solos.
Essa nova abordagem, mais realista, buscou rever fatores de confusão relevantes e estabeleceu uma correlação entre as alterações na abundância de mamíferos com o tempo decorrido desde a última nevasca e a taxa de dose à qual foram expostos, além de considerar as diferenças entre presas e predadores.
As taxas de doses obtidas da reanálise são compatíveis com os níveis de exposição registrados na literatura como passíveis de provocar transtornos fisiológicos em mamíferos, a ponto de explicar a redução de sua abundância na área da ZEC.
Coautor do novo estudo, o biólogo da Universidade da Carolina do Sul Timothy Mousseau explicou que os efeitos observados são consistentes com os saberes tradicionais sobre radiação. Para ele, “o que é surpreendente é que demorou tanto tempo para começarmos a olhar para isso de uma forma rigorosa e abrangente”.