Ciência
11/03/2021 às 14:30•3 min de leitura
Uma equipe da University of California, San Diego (UCSD), liderada pela geneticista Alysson Muotri, está usando os genes coletados de amostras de osso de neandertais e células-tronco para recriar, em placas de vidro, tecido cerebral desse ancestral do ser humano.
Os “minicérebros” não são capazes de pensamento, mas serão úteis para entender a neurologia ancestral. Para gerar tecido cerebral neandertal, Muotri usou células de pele de um indivíduo sem defeitos genéticos relacionados a distúrbios neurológicos, que foram então transformadas em células-tronco. O gene Neandertal escolhido foi um dos 200 que mudaram no H. sapiens – especificamente, o que codifica a proteína NOVA1, ligada ao autismo e à esquizofrenia.
O DNA ancestral foi extraído de ossos de três mulheres neandertais, encontrados na caverna Vindija, na Croácia.
As “bases neandertais” no gene humano foram inseridas nas células-tronco usando-se a tesoura genética CRISPR. Para efeito de comparação, também foram usadas células humanas modernas para criar os organoides (estruturas tridimensionais cuja origem são células-tronco, e que se parecem com um tecido original específico – nesse caso, o tecido cerebral).
Ao fim de quatro meses, as células-tronco com DNA ancestral se converteram em organoides (chamados de “neanderoides” por Muotri) até o estágio em que foram detectados sinais elétricos.
O resultado final foi redes neurais que se organizam de maneira diferente e em tamanhos idem. "Estamos tentando recriar mentes neandertais. Por que nossos cérebros são tão diferentes de outras espécies, incluindo nossos próprios parentes extintos?", disse Muotri à Science Magazine.
Os “neanderoides” cresceram com a forma de uma pipoca e os “humanroides”, redondos. Ao se estruturar, os neurônios modificados migram mais rapidamente dentro do organoide, formam menos conexões sinápticas e criam redes neurais anormais.
À esquerda, células modificadas com gene neandertal e à direita, células cerebrais do homem moderno,
“Nos humanos modernos, essas mudanças estão ligadas a defeitos no desenvolvimento cerebral necessário à socialização", disse ela. Segundo a cientista, similaridades foram encontradas no tecido cerebral de crianças com autismo.
O geneticista evolucionário Svante Pääbo, o primeiro a sequenciar o DNA Neandertal; disse que é muito difícil descobrir quais diferenças genéticas entre nosso ancestral e o homem moderno são "funcionalmente relevantes": "Os organoides representam apenas o estágio inicial do desenvolvimento do cérebro. Eles estão longe de nos dizer como os cérebros adultos funcionam.”
https://www.youtube.com/watch?v=5FBxnkzI9HU