Ciência
05/09/2021 às 02:00•3 min de leitura
O Dia da Amazônia é celebrado em 5 de setembro, uma data para exaltarmos a importância de um dos maiores patrimônios naturais da Terra e lar de uma biodiversidade deslumbrante. Mesmo assim, essa riqueza ecológica tem sido cada vez mais atacada pelos atos humanos.
Segundo um estudo publicado na revista Nature, a série de incêndios florestais que atingiram a Amazônia entre 2001 e 2009 deixou grandes estragos. Estimativas indicam que uma área entre 103.079 e 189.755 quilômetros quadrados da Floresta Amazônica foi impactada no período e 3 em 4 espécies de árvores ameaçadas de extinção tiveram seu hábitat incendiado. Portanto, precisamos falar sobre a importância de manter essa natureza viva.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A saúde da Amazônia aparece cada vez mais em jogo. Segundo dados da pesquisa "MapBiomas", quem tem mais de 3 décadas de informações sobre o uso de terra no Brasil, o desmatamento da Floresta Amazônica aumentou 10% somente em 2020. E o mesmo é válido para as queimadas, que crescem em proporções astronômicas e afetam diretamente a saúde de plantas e animais ameaçados de extinção.
Na visão do pesquisador Caio Mattos, explorador do National Geographic (Nat Geo) e especialista nos impactos da mudança climática na Amazônia, esses números são catastróficos: "Temos que entender que a Floresta Amazônica é o resultado da união de várias camadas de vida, das maiores árvores até os menores fungos e bactérias. À medida que a floresta vai perdendo essas partes, ela vai perdendo sua resiliência, assim como nós humanos ficamos doentes à medida que perdemos e não repomos os nutrientes dos quais precisamos".
Mattos ressalta que, caso nada seja feito, vastas áreas da Amazônia podem colapsar devido à perda da biodiversidade. "O desmatamento, as queimadas e a poluição dos garimpos dizimam partes cruciais desse sistema e o tornam extremamente vulnerável ao colapso", conclui.
(Fonte: Caio Mattos/Divulgação)
Como se não bastasse o agravante cenário causado pelas queimadas e pelo desmatamento, que em sua maioria é fruto do aumento da abertura de espaço para pasto e criação de gado, o aquecimento global também é um importante fator de risco para a Floresta Amazônia.
Como especialista nessa área, Mattos relembra que três episódios de seca muito extrema mataram milhões de árvores da região, elevaram o número de incêndios, provocaram diminuição no nível dos rios e inclusive atrapalharam o transporte da população local entre 2005 e 2015.
O aumento da duração das secas também vem causando um "estresse crônico" nas florestas. Dessa forma, a Amazônia estaria trocando suas espécies por outras mais resistentes à seca e liberando mais gás carbônico do que absorve. "Isso tende a piorar as mudanças climáticas, e entramos em um ciclo vicioso em que a floresta vai cada vez sofrer mais com menos chuvas e mais secas extremas", explica Mattos.
(Fonte: Projeto Mantis/Divulgação)
Se por um lado a ação humana parece estar prejudicando a saúde da Amazônia, por outro muitas pessoas trabalham nos bastidores para mostrar ao mundo a importância da riqueza natural do lugar. É o caso do Projeto Mantis, uma organização independente que nasceu como projeto universitário e hoje realiza estudos de novas espécies de louva-a-deus.
Criado pelos pesquisadores João Felipe Herculano e Leonardo Lanna, que também trabalham como exploradores para o Nat Geo, o grupo recentemente realizou a expedição "Austral: Mantis da Amazônia", na qual permaneceram 2 meses na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de Cristalino, no Mato Grosso. "Normalmente, em uma noite de busca por louva-a-deus, a gente encontra de quatro a dez indivíduos, o que já é um sucesso. Lá chegamos a encontrar 33 em uma única noite. E é claro que encontramos diversas espécies novas, nunca descritas pela ciência", ressaltam sobre o período de pesquisa.
Apesar de trabalharem com o louva-a-deus como símbolo do projeto e único objeto de pesquisa, os pesquisadores fazem fotografias de diversas espécies para divulgar a riqueza da vida selvagem no Brasil. "Nós erguemos isso como uma bandeira para tratarmos de conscientização ambiental, conservação, ciência e arte", explicam.
(Fonte: Projeto Mantis/Divulgação)
Quando perguntados como enxergam a importância do Dia da Amazônia, os entrevistados citaram um ponto incomum: é uma data importantíssima para que a população brasileira lembre a real força representativa da Floresta Amazônica.
"O governo cortou os recursos de institutos de pesquisa e monitoramento responsáveis por dados críticos para entendermos o que está acontecendo com a Amazônia. Neste momento, é necessário que a população se mobilize para pressionar as autoridades e as empresas que financiam o desmatamento não só para restituir essas diversas proteções, mas também para aprimorá-las", cobrou Mattos.
Já para os pesquisadores do Projeto Mantis, o recado deve ser de respeito e aprendizado: "Hoje, a Amazônia é muito explorada de forma negativa — esgotar, destruir e usurpar a vida que ela produz. Acreditamos que a melhor forma de explorá-la é como sempre fizeram os povos originários, buscando descobrir, conhecer, respeitar e aprender para poder proteger e conservar este que é o coração do nosso mundo".