Artes/cultura
16/10/2021 às 09:00•3 min de leitura
Os fornos de micro-ondas são relativamente baratos e muito práticos, marcando presença em várias residências. Desde que eles se popularizaram entre 1980 e 1990, nós nos acostumamos a usá-los frequentemente para aquecer líquidos e sobras de comida, bem como preparar pratos congelados. Mas, por se tratar de um item tão cotidiano, é raro pararmos para pensar como ele realmente funciona…
Afinal, como acontece a mágica que faz o micro-ondas esquentar nossa comida sem fogo e sem deixar todo o interior do aparelho quente? O segredo está na física!
As micro-ondas são ondas eletromagnéticas invisíveis que viajam pelo ar na velocidade da luz — até porque são feitas de elétrons. São ondas mais curtas que as de rádio e mais longas que as de infravermelho ou raios X que têm energia suficiente para esquentar os alimentos, mas muito menos do que o necessário para causar mal à saúde.
Essas micro-ondas são geradas dentro do forno por uma peça chamada magnetron, que contém um transformador que converte nossa eletricidade caseira de 110 ou 220 volts para 4.000 ou mais. Essa voltagem esquenta um filamento e movimenta elétrons no magnetron. Os elétrons então são puxados por ímãs para criar as micro-ondas, que são transmitidas para o interior do forno por uma antena.
A antena joga as micro-ondas em todas as direções, fazendo-as ricochetear nas paredes do interior e naquela rede de metal que podemos observar na porta do forno. Tudo isso para que as ondas eletromagnéticas atinjam a comida e a aqueçam.
Magnetron, que gera as micro-ondas. (Fonte: Rusty Gouveia/Pixabay)
As ondas eletromagnéticas penetram fundo na comida e mexem com as moléculas de água dentro dos alimentos. Isso acontece porque essas moléculas têm polos opostos — positivo e negativo —, que ficam tentando se alinhar com as ondas no forno. Nesse movimento de se alinhar e desalinhar, as moléculas se chocam entre si, e toda essa fricção gera calor. Esse calor aquece a comida.
Isso é o que torna o processo de aquecimento do micro-ondas tão diferente daquele que se dá em um fogão ou forno. Quando aplicamos calor direto no alimento, este vai penetrando de dentro para fora, gradual e lentamente. Já as micro-ondas aquecem todas as moléculas de água da comida ao mesmo tempo — e não de dentro para fora, como muitos acreditam.
Uma curiosidade interessante é que, como as micro-ondas viajam a esmo pelo interior do forno, elas podem se chocar umas com as outras. Quando isso acontece, elas se cancelam e geram "zonas frias", que não aquecem comida alguma. É para evitar as zonas frias que os pratos de micro-ondas giram.
E essa história de ondas viajando a esmo e ricocheteando não podem fazer com que alguma radiação "vaze" pelo aparelho? Esse risco é muito pequeno, visto que os fornos são projetados para manter todas as ondas lá dentro. Além disso, a radiação dos micro-ondas é bem pequena para gerar danos à nossa saúde.
Mesmo assim, se alguma parte do seu micro-ondas estiver danificada — especialmente os vidros e a porta —, é melhor parar de utilizá-lo.
Um micro-ondas neste estado é claramente perigoso. (Fonte: Unsplash)
Muita gente já passou por esta situação: preparar uma comidinha no micro-ondas e perceber que parte dela está fervendo enquanto outras ainda estão congeladas. Há vários motivos para isso acontecer. O primeiro é a quantidade de água em diferentes partes do alimento: um recheio líquido ou pastoso provavelmente esquentará mais rápido que a casca rígida de uma torta, por exemplo.
Outro motivo relacionado é a densidade dos alimentos, o que é especialmente importante para alimentos congelados, pois as moléculas de água abaixo de 0 °C são mais densas e se movimentam bem menos do que aquelas em estado líquido. Por isso, conforme você descongela um alimento, a parte que já descongelou vai esquentar cada vez mais rápido, enquanto outras vão demorar mais para sair desse estágio.
A superfície de contato das ondas com a comida também influencia bastante, de modo que é bom espalhar bem a comida antes de colocá-la no forno. Abrir uma "cratera" de comida no meio do prato pode ajudar a aumentar a superfície de contato.
Abrir um buraco na comida ajuda a esquentá-la melhor. (Fonte: Popsugar/Reprodução)
Uma última curiosidade sobre esse aparelho incrível: o poder de cozimento das micro-ondas foi descoberto por acidente, pelo engenheiro norte-americano Percy Spencer (1894-1970), nos anos 1940. Ele trabalhava com radares de rádio e percebeu que as micro-ondas derreteram uma barra de chocolate em seu bolso. A empresa Raytheon, que o empregava, financiou as pesquisas para que o primeiro forno de micro-ondas chegasse ao mercado em 1955. No entanto, o "trambolho" era enorme e muito caro, então quase ninguém comprou. Os micro-ondas só ganharam o mundo quando a tecnologia evoluiu e modelos menores surgiram nas décadas seguintes.