Saúde/bem-estar
15/11/2021 às 08:00•2 min de leitura
A empresa canadense Muse lançou oficialmente seu dispositivo eletrônico de feedback, capaz de treinar a mente do usuário para regular as ondas cerebrais e monitorar atividades regulares do corpo, como frequência cardíaca e sono. O aparelho, disponibilizado em formato de tiara, é mais uma aposta da indústria na imersão da chamada "tecnologia do espírito", que busca viabilizar o alcance de estados mais elevados da mente por meio da meditação induzida.
Proposto há uns anos como forma alternativa do tratamento de pessoas com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), o dispositivo consiste em uma experiência de autodescoberta, possibilitando o acesso rápido a insights espirituais que podem facilitar a descoberta de respostas sobre o "eu". Dessa forma, a tiara entrega todas as condições para que o usuário possa entrar em um estado de calma e atenção concentrada, rastreando a atividade do cérebro e emitindo sons que o orientem adequadamente pelos caminhos da mente.
Para isso, o aparelho conta com sensores de eletroencefalografia (EEG) para rastrear a atividade espontânea do cérebro, sendo suportado por um algoritmo específico que seleciona ondas relacionadas à atenção e ao estresse para sugerir uma alternativa viável de autocontrole via smartphone. A partir desse conceito, ele contorna pensamentos negativos e os direciona para o foco de tranquilidade, educando o espírito a tomar iniciativas quanto ao controle próprio.
(Fonte: Muse/Reprodução)
O Muse Headband se baseia em operações de neuroestímulos que criam uma sensação de formigamento ao enviarem baixos níveis de eletricidade para o cérebro, resultando no surgimento de diferentes padrões de atividade. Com isso ele é capaz de colaborar para o alcance de níveis de meditação considerados básicos, fornecendo pistas de leitura que se assemelham a experiências místicas.
Segundo evidências na área científica, a tiara segue sem comprovação clara de eficiência, especialmente se tiver seu uso atrelado a longo prazo. Porém, os resultados iniciais dos relatórios em humanos sugerem uma preocupação relevante para a comunidade acadêmica, que aponta para a dissolução do medo e do apego, bem como a extinção de um senso do "eu" individualizado, ou seja, capaz de tomar as próprias decisões.
Historicamente, não há consenso sobre como diferenciar uma experiência de iluminação autêntica. Porém, tendo como referência os povos que praticam meditação e outras atividades relativas ao olhar "para dentro", encontrar respostas dentro da mente é algo que demanda muito tempo e prática. Assim, especialistas sugerem que as práticas de neurofeedback devem ser vistas como um guia, e não como uma evolução que possa ser aplicada de forma definitiva ou contínua.
(Fonte: Muse/Reprodução)
“É possível simplesmente ter experiências intensas e transitórias. Essas experiências incrivelmente poderosas podem mudar completamente sua disposição de assumir algo assim”, esclareceu Wesley Wildman, pesquisador do Centro para Mente e Cultura da Universidade de Boston, ao Vox. "A ideia é que ele (o dispositivo) tenha como alvo a parte desejada do cérebro de tal forma que, com o uso repetido, realmente mudará o cérebro. Isso ajudará a criar essas novas vias neurais", completou a pesquisadora Kate Stockly.
Nas sociedades tradicionais, a experiência espiritual é guiada por mestres e culturas que moldam a maneira como a pessoa extrai significados, funcionando como técnica eficaz para o alcance da tranquilidade e da tão desejada paz interior. Agora, as tecnologias neuroestimulantes surgem como uma alternativa valiosa para quem não tem condições de se elevar a um estado de equilíbrio de forma acompanhada, implementando um projeto que foge bastante do conceito social do método, mas pode colaborar com iniciantes na prática.