Estilo de vida
16/10/2021 às 12:00•3 min de leitura
Em algum momento da sua vida, é bem provável que você já tenha ouvido falar que a "dor é apenas psicológica". Mas até que ponto essa afirmação é verdadeira? Se sim, esse seria o motivo pelo qual diferentes pessoas vivenciam o sentimento de dor de maneiras diferentes para um mesmo estímulo?
E se tudo isso for realmente a verdade, será que nós podemos ensinar o nosso cérebro a sentir menos dor? Antes de responder todas essas perguntas, vamos nos aprofundar um pouco mais sobre essa sensação e qual o papel da dor no funcionamento do corpo humano.
(Fonte: Pixabay)
Quando falamos de dor, estamos falando basicamente de uma percepção pessoal muito semelhante aos nossos seis sentidos primários. Em entrevista ao Mega Curioso, o neurocientista, psicanalista e biólogo Dr. Fabiano de Abreu respondeu algumas perguntas a respeito desse conceito.
"A dor é um tipo de percepção, como o olfato, o paladar e a audição. No entanto, esses sentidos dizem o que está acontecendo no mundo ao seu redor. A dor diz a você o que está acontecendo no mundo do seu próprio corpo", descreveu. De acordo com o especialista, a tolerância à dor é influenciada pelas emoções, corpos e estilos de vida das pessoas.
Mas para que serve a dor? Ela é um sinal emitido pelo nosso corpo que serve como proteção, indicando que nós estamos em perigo. Em geral, o sentimento de dor é essencial para a manutenção da nossa saúde, uma vez que indica quando algo de errado está acontecendo em nosso organismo — como no caso de infecções ou até mesmo um eventual infarto.
Se os seres humanos não sentissem dor (o que pode acontecer em alguns casos) é bem provável que alguns problemas de saúde passassem desapercebidos e/ou uma doença progredisse e agravasse sem que esse indivíduo percebesse. Dessa forma, seria praticamente impossível realizar um diagnóstico precoce, o que é essencial para reverter diversos quadros clínicos.
(Fonte: Pixabay)
Como dito anteriormente, a dor nada mais é do que uma percepção pessoal de um problema. Quando sofremos uma lesão, as células nervosas dessa parte do corpo captam o sinal de que algo está errado e uma rede de neurônios transmite essa mensagem para a medula espinhal.
Por sua vez, a medula espinhal envia um comando para o cérebro, que irá traduzir essa mensagem para a sensação de dor. "A depressão e a ansiedade podem tornar a pessoa mais sensível à dor. Os atletas podem suportar mais dor do que as pessoas que não se exercitam. Pessoas que fumam ou são obesas relatam mais dor", explica Abreu.
Existem múltiplos fatores que podem fazer uma pessoa sentir menos dor, como é o caso da genética, doenças crônicas como a diabetes que provocam lesões nos nervos ou até mesmo doenças hereditárias como a Síndrome de Riley-Day, que prejudica o funcionamento dos neurônios sensoriais. De acordo com um estudo publicado na Neuroscience Letters em 2009, um mesmo indivíduo pode sentir dor de maneiras distintas dependendo do lado do seu corpo que sofrer a lesão.
O trabalho do cérebro nas sensações do corpo é tão único que até mesmo pessoas que tiveram um membro do corpo amputado costumam experimentar uma sensação fantasma no membro inexistente — o que é diferente da dor, mas segue sendo algo produzido pela mente.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Para algumas pessoas, a dor se torna algo tão insignificante e controlável que pode ser transformada em divertimento e arte. Ao longo da história da humanidade, existem alguns grande exemplos de pessoas que encantaram e surpreenderam plateias com suas capacidades de tolerar o sofrimento.
No século XIX, por exemplo, Evatima Tardo era ovacionada por conseguir resistir a mordidas de cobras venenosas sem esboçar qualquer tipo de reação. Mais recentemente, a artista performática Marina Abramovic ganhou o mundo se cortando com facas, perfurando-se com espinhos e se flagelando sem sentir dor.
O que para o público é visto como uma dor excruciante e inacreditável, para esses performistas é apenas uma maneira de trabalhar sua arte e usar seu próprio corpo como uma tela em branco.
(Fonte: Pixabay)
Uma pessoa que sofre de dor crônica, ou recorrente, normalmente possui algum tipo de alteração no modo como a medula espinhal, os nervos e o cérebro processam estímulos desagradáveis que causam hipersensibilização. No entanto, o nosso cérebro e nossas emoções são mais do que capazes de moderar ou intensificar uma dor por conta própria.
"O mecanismo da dor é central: áreas cerebrais, incluindo o córtex cingulado anterior, o tálamo e a ínsula, que respondem consistentemente aos estímulos dolorosos. Toda dor vem antes mesmo de sentir", explicou o Dr. Fabiano de Abreu. E como uma pessoa poderia ser treinada para sentir menos dor?
De acordo com especialistas, tudo passa pela maneira como um indivíduo apende a direcionar os pensamentos que giram em torno da mente. Portanto, trabalhar técnicas de respiração e relaxamento ou exercer práticas como ioga e meditação podem te ajudar a construir um maior controle sobre o corpo e fazer com que uma dor incômoda se torne menos perceptível.