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06/12/2021 às 09:37•2 min de leitura
O termo "espécie invasora" é algo regularmente utilizado para se referir a grupos de animais que foram inseridos em um hábitat diferente do seu original. Dessa forma, a Terra seria dividia entre espécies nativas e invasoras, não sobrando espaço para um meio-termo nessa qualificação.
Embora essa definição seja útil para classificar alguns animais que foram inseridos em um determinado ecossistema e causam distúrbio no equilíbrio ecológico, como é o caso dos hipopótamos de Pablo Escobar na Colômbia, ela também pode ser altamente injusta com outras criaturas que estão apenas lutando por sobrevivência. Entenda o caso.
(Fonte: Leandra Felipe/G1)
Em 2016, a ecologista marinha Piper Wallingford avistou uma espécie curiosa durante uma de suas pesquisas de campo em Laguna Beach, nos Estados Unidos. Tratava-se do caracol Mexacanthina lugubris, predador que perfura a concha dos mexilhões e injeta uma enzima capaz de liquefazer sua carne.
Acontece que essa criatura é natural do México, e não do estado da Califórnia, onde foi encontrada, mas tem migrado aos poucos pela costa oeste do continente americano durante as últimas décadas em busca de um novo hábitat. Em sua jornada, esses caracóis têm deixado um rastro de presas pelo caminho.
Porém, que culpa eles têm se sua "terra natal" já não serve mais? Aliás, essa está longe de ser a única espécie pelo planeta que está se mudando por causa do clima. Criaturas como o cariacu, lagostas, tatus e até mesmo espécies árvores, como o bordo, entraram em processo de migração.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Na visão de ecologistas, é difícil prever como as mudanças climáticas vão reorganizar os ecossistemas, com algumas criaturas realmente precisando se locomover para sobreviver. As migrações são críticas para a capacidade das espécies de suportar temperaturas mais altas.
Em geral, esse processo é considerado benéfico para a biologia, mas nem tanto na visão do público. Graças à visão tão "preto no branco" sobre as espécies invasoras, nós aprendemos a julgar a maneira como os ecossistemas deveriam funcionar e criamos nossas próprias regras para mexer na natureza.
Ao longo da história, essas criaturas foram caçadas das maneiras mais terríveis possíveis. Portanto, o ideal é que o ser humano tente interferir o mínimo possível no andamento da natureza, exceto pelos casos em que as tais "espécies invasoras" realmente ameacem a existência de diversas outras criaturas.
(Fonte: Shutterstock)
Conforme apresentado em reportagem produzida pela Vox, a ecologista Arian Wallach, da Universidade Tecnológica de Sydney, acredita cada vez mais que o termo "espécies invasoras" é apenas um conjunto de palavras "amaldiçoadas" para "demonizar" espécies inteiras e livrar os seres humanos da culpa por suas ações.
Dessa forma, animais são bombardeados, caçados, envenenados e seja lá o que for necessário para deixarem de existir em tal região. Para Wallach, entretanto, muitos se esquecem de levar em consideração os benefícios que tais espécies podem eventualmente oferecer e o contexto atual onde vivemos.
Um exemplo disso acontece com o dingo, uma espécie de cão selvagem que foi introduzida na Austrália séculos atrás. Desde então, eles se tornaram os principais predadores de felinos e raposas que caçam alguns dos marsupiais mais icônicos do país: o bandicoot-listrado-Oriental.
Em outros casos, as chamadas "espécies invasoras" são consideradas ameaçadas em seu hábitat natural e são alvos de políticas públicas em seus novos lares, como acontece com o cervo-porco-indiano, um pequeno veado nativo do Sul da Ásia. Assim, Wallach defende que espaços não nativos também podem servir de refúgio para criaturas que já não têm mais subsistência em seu ecossistema natural.