Ciência
21/12/2021 às 13:00•2 min de leitura
Era uma manhã bem cedo de 1º de setembro de 1859, quando o astrônomo amador Richard Carrington (1826-1875) subiu até seu observatório particular na zona rural de Londres. Ao apontar o telescópio em direção ao Sol, ele percebeu um aglomerado de enormes manchas escuras em sua superfície, chegando a avistar o que mais tarde descreveria como duas manchas de luz intensamente brilhante e branca em meio as manchas solares.
O fenômeno durou apenas 5 minutos, mas poucas horas depois, a Terra começou a sentir os efeitos de seu impacto. As comunicações telegráficas começaram a falhar ao mesmo tempo, houve chuvas de faíscas de máquinas telegráficas, causando incêndios e eletrocutando operadores. As auroras boreais pelo planeta iluminaram tanto os céus noturnos que todo mundo pensou que era de dia.
Muitos encararam como um dia comum, mas outros achavam que aquele era o prenúncio para o fim do mundo.
(Fonte: Cambio Climático/Reprodução)
O que Carrington viu foi uma explosão solar massiva com a energia de 10 bilhões de bombas atômicas, em uma erupção que expeliu gás eletrificado e partículas subatômicas em direção à Terra, classificando o evento como “a maior tempestade solar já registrada”, conhecida como Evento Carrington.
O fenômeno daquela sexta-feira evocou descrições bíblicas, como a escrita pelo Cincinnati Daily Commercial: “As mãos dos anjos mudaram o glorioso cenário dos céus” — quando, na verdade, os céus foram incendiados por uma enorme bolha de gás eletricamente carregado, disparado do Sol após um flash de luz conhecido como erupção solar.
Richard Carrington. (Fonte: Wikimedia/Reprodução)
Um emaranhado de plasma e campos magnéticos, essa bolha é lida pela ciência como ejeção de massa coronal, que pode desencadear a mais feroz das tempestades geomagnéticas da história ao chegar à Terra. Mas o que aconteceu em 1859 foi apenas uma amostra do que o Sol pode jogar sobre nós.
Cerca de 18 horas antes do evento iluminar os céus da Terra, outro astrônomo inglês, Richard Hodgson (1855-1905), também viu o mesmo que Carrington. Ao mesmo tempo, as agulhas do Observatório Kew da Inglaterra, estremeceram, uma sugestão que a tempestade magnética estava prestes a acontecer.
Antes disso, ninguém sabia sobre erupções solares, nem mesmo sobre o impacto delas sobre nós.
(Fonte: The Mirror/Reprodução)
Contudo, devido ao nível da tecnologia durante a época em que aconteceu o Evento Carrington, o impacto da tempestade geomagnética foi muito limitado e causou poucos estragos relevantes — o que não seria nossa realidade, caso o fenômeno acontecesse amanhã, por exemplo.
A explosão teria um efeito avassalador na infraestrutura tecnológica, podendo paralisá-la, resultando em um caos mundial, visto que dependemos de sistemas técnicos para a maior parte de nossas operações na Terra. Uma tempestade na escala do que aconteceu em 1859 causaria bilhões ou até trilhões de dólares em danos a satélites, redes de energia e comunicações de rádio; gerando apagões elétricos em escala mundial, levando até anos para serem reparados, ameaçando sistemas bancários, produção de alimentos, e outros setores da indústria.
Só algumas partículas carregadas de tempestades geomagnéticas já são o suficiente para causar distúrbios no campo magnético da Terra, gerando efeitos nos sistemas elétricos. Elas produzem interrupções de tensão, levando a quedas de energia; mudanças na tensão do solo, aumentando a corrosão em oleodutos; interrupção nas redes de comunicações via satélite, rádio e celular; exposição a níveis elevados de radiação; e redução em voos com rotas polares.
(Fonte: European Space Agency/Reprodução)
Em um artigo da The Conversation, Michael Batu, professor do Departamento de Economia da Universidade de Windsor, disse que 4% dos distúrbios de energia entre 1992 e 2010 relatados ao Departamento de Energia dos Estados Unidos são atribuídos à forte atividade geomagnética.
Em um estudo de pós-graduação, Batu descobriu que o Produto Interno Bruto (PIB) dos 34 países membros da organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico diminui com o aumento da atividade solar em pelo menos 0,06% para cada 1% na atividade solar.