Saúde/bem-estar
17/04/2022 às 11:00•2 min de leitura
Falar sobre piolho, além de causar coceira instantânea e saber que a maioria já teve quando criança, é falar sobre a história da própria humanidade, visto que o parasita evoluiu com a nossa espécie.
Acredita-se que os primeiros piolhos de corpo tenham surgido nos povos que habitavam a África há cerca de 170 mil anos, sendo carregados para o Novo Mundo na América do Sul quando eles se deslocaram do continente africano. Logo que os homens passaram a usar roupas, os piolhos de cabeça migraram para este outro habitat, deixando lêndeas que se fixaram nas tramas das roupas, evoluíram e criaram um tipo de parasito: o piolho de corpo, também conhecido como muquirana.
Com cerca de 2 a 3 milímetros, o tamanho de um grão de gergelim, seis patas e cor entre marrom e branco-acinzentado — o piolho adulto do couro cabeludo se alimenta do sangue de seu hospedeiro ao se instalar no folículo piloso, na base do cabelo, onde também deposita seus ovos. Ele é conhecido por se reproduzir com rapidez e ser de fácil transmissão.
Conforme a National Library of Medicine, estima-se que infestação de piolhos afete cerca de 2 milhões de pessoas no mundo anualmente, sendo que só no Brasil cerca de 61,4% dos afetados são do sexo feminino e em idade escolar.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Pesquisadores da Universidade de Reeding, na Inglaterra, descobriram que mais da história da civilização humana pode ser compreendida por amostras de DNA humano, recuperadas dessa espécie de "cimento" excretado das glândulas dos órgãos reprodutivos dos piolhos fêmeas para fixar os ovos.
Essas amostras foram coletadas do couro cabeludo dos restos mortais de antigos sul-americanos com 1.500 a 2 mil anos, e as análises revelaram detalhes sobre a saúde, demografia e vida de alguns antepassados que sofreram com a infestação de piolhos.
O "cimento" permitiu a determinação do sexo de cada hospedeiro humano e ligações com outros grupos de povos antigos, incluindo moradores da Amazônia vivos há dois milênios. Alguns apresentaram evidências de câncer de pele presos no "cimento" dos piolhos, levando à possibilidade de que os parasitas poderiam espalhar câncer de pele.
(Fonte: Universidad Nacional de San Juan)
O exame de DNA confirmou o padrão migratório há muito estabelecido dos grupos de pessoas que se deslocaram das planícies do norte da Amazônia para a porção da Cordilheira dos Andes da cidade de San Juan, na Argentina. Pela distância dos piolhos do couro cabeludo, os pesquisadores determinaram que a provável causa da morte deles foi exposição a uma temperatura muito fria. Isso porque, quanto maior a distância do couro cabeludo, menor é a temperatura do ambiente externo.
Doenças virais e como os piolhos se relacionavam com outras espécies, como os muquiranas, também foram outras descobertas que os pesquisadores conseguiram fazer. Mikkel Winther Pedersen, da Universidade de Copenhague, revelou que foi uma surpresa para os cientistas a quantidade de material que esses "cimentos" preservaram, apesar dos milhares de anos.