Artes/cultura
04/07/2022 às 14:00•2 min de leitura
A memória humana é incrível. Existem lembranças que nos fazem rir, lembranças que nos entristecem e até lembranças que nos apavoram. Contudo, existe uma categoria de lembranças que é fascinante, pois pode moldar o nosso comportamento: as lembranças reprimidas.
As lembranças reprimidas estão associadas à “repressão”. Trata-se de um termo psicanalítico que se tornou popular pelo trabalho de Freud, pai da psicanálise. Ele percebeu que o sofrimento relatado por alguns de seus pacientes tinha origem em memórias reprimidas. Isso significa que a mente fazia com que a pessoa se esquecesse de momentos traumáticos de propósito. Mas por quê?
(Fonte: Shutterstock)
A psicanálise explica que alguns momentos vividos trazem tanto sofrimento às pessoas que lembrar deles tornaria a vida muito difícil. É por isso que a nossa mente, sem nos consultar, resolve reprimir essas memórias.
Elas não são apagadas. É como se elas fossem arquivadas em uma pasta com senha, mas o indivíduo não sabe que senha é essa. A mente não dá a ele acesso às memórias reprimidas.
Freud descobriu que essas memórias estavam associadas a traumas e que tratá-los traria alívio aos pacientes. O problema era acessá-las. O psicanalista achou uma forma de hackear a mente humana: usando hipnose.
A hipnose fazia com que os pacientes verbalizassem as memórias reprimidas. O problema é que eles se esqueciam delas em seguida e mesmo quando Freud explicava do que se tratavam os traumas, isso não trazia nenhuma melhora. A mente entendia que o sofrimento desses episódios era tão grande que reprimi-los era a única saída.
Ainda que nossa mente consciente (àquela que conseguimos acessar) não saiba das memórias reprimidas, de vez em quando, resquícios dessas lembranças emergem e influenciam nosso comportamento.
Por exemplo: aos 8 anos, João viu um acidente de carro na rodovia. Aquilo o traumatizou. Agora, já adulto, ele tem crises de ansiedade quando entra em um carro e não entende o porquê. Ele nem se lembra que um dia viu esse acidente.
Mesmo que seus pais se lembrem da cena e contem para João, isso não seria suficiente para ajudá-lo. É preciso que ele acesse as lembranças da sua própria mente, conscientemente, e as analise.
(Fonte: Shutterstock)
“Análise” é o termo usado por quem vai ao analista. O analista não é um psicólogo, mas um psicanalista. Esse profissional segue a linha proposta por Freud, enquanto os psicólogos, em resumo, usam outras teorias e ferramentas.
Independentemente de qual profissional a pessoa procure, é consenso na comunidade científica de que as memórias reprimidas existem e que acessá-las pode ajudar o paciente a lidar com sintomas de traumas. O avanço na neurociência tem ajudado a compreender as teorias freudianas no cérebro humano.
No entanto, ainda é comum que a pessoa procure ajuda para se livrar de um sintoma, como uma fobia, e se depare com memórias reprimidas. Esse processo não é simples e nem rápido, mas é importante fazê-lo para tentar superar esse episódio incômodo.