Ciência
29/07/2022 às 04:00•2 min de leitura
Imagina a seguinte cena: você sai para comprar pão e ao atravessar a rua precisa esperar um milípede de 2,5 metros passar. Mais tarde, ao chegar na padaria, você olha para cima e vê uma libélula do tamanho de uma gaivota voando. Parece cena de algum filme de fantasia de baixo orçamento, mas era assim que eram os artrópodes há 300 milhões de anos.
Esse grupo que além dos insetos também inclui os miriápodes (lacraias, piolhos-de-cobra, milípedes, entre outros), aracnídeos e crustáceos, conseguiu evoluir em um ambiente rico em oxigênio, que provavelmente foi um fator decisivo para o crescimento exagerado.
De acordo com um estudo realizado por cientistas da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, foi a maneira como o oxigênio afeta as larvas desses animais que influenciou na evolução deles. “Achamos que não é apenas porque o oxigênio afeta os adultos, mas porque o oxigênio tem um efeito maior nas larvas”, comentou Wilco Verberk, um dos autores do estudo.
Cópia do fóssil de uma libélula com envergadura de 68 cm. (Fonte: Wikimedia Commons)
Ter mais oxigênio disponível pode parecer uma vantagem inicialmente. O problema é que em altas concentrações, ele também pode ser um problema. Em humanos, por exemplo, o excesso de oxigênio pode causar danos celulares, levando a problemas de visão, dificuldade para respirar, náusea e convulsões.
Insetos adultos podem regular sua ingestão de oxigênio abrindo ou fechando seus espiráculos — orifícios em seus corpos que são como válvulas. Como as larvas de insetos normalmente absorvem oxigênio diretamente através da pele, elas têm pouco ou nenhum controle sobre a quantidade de gás absorvido.
A solução que a natureza encontrou para isso é a proporção entre área da superfície pelo volume. “Se você cresce, sua área de superfície diminui em relação ao seu volume”, explicou Verberk. Portanto, as condições da atmosfera terrestre durante o Carbonífero — entre cerca de 359 a 299 milhões de anos atrás — foram favoráveis às larvas maiores. O resto é seleção natural e evolução.
Mas, se esses artrópodes foram tão bem-sucedidos durante um longo período, por que eles não existem atualmente? A resposta para isso traça o caminho contrário do que fez esses animais crescerem. Conforme os níveis de oxigênio foram diminuindo, animais que precisavam mais desse gás para se locomover foram ficando mais lentos, enquanto os animais menores passaram a ter um maior sucesso.
“Com o tempo [a diminuição dos níveis de oxigênio] provavelmente fez com que o desempenho dos insetos maiores diminuísse. Tal desempenho reduzido acabou por possibilitar que outras espécies superassem os gigantes”, concluiu Verberk.