Artes/cultura
09/01/2023 às 11:00•2 min de leitura
Embora os incas sejam mais conhecidos por sua arquitetura, cerâmica e técnicas de tecelagem avançadas, eles também desenvolveram práticas médicas complexas. Suas habilidades medicinais só foram conhecidas no século XIX, após um diplomata americano encontrar um artefato que mudaria a visão sobre essa civilização.
Em 1864, o americano Ephraim George Squier teve uma experiência inesquecível durante sua viagem ao Peru. Apaixonado por arqueologia, Squier havia sido enviado pelo então presidente estadunidense Abraham Lincoln ao país para garantir o suprimento de guano, um fertilizante rico em nitrogênio e fósforo encontrado nas ilhas da América do Sul. Depois de um ano de viagens e pesquisas, ele chegou a Cusco, uma cidade isolada na região dos Andes.
Em Cusco, Squier foi apresentado à senhora María Ana Centeno de Romainville, popularmente conhecida por Zentino, uma colecionadora de antiguidades que possuía uma espécie de museu em sua casa, chamado por Squier de "palácio" devido à sua riqueza de objetos e decoração.
Acreditava-se que neurocirurgias eram recentes. (Fonte: Shutterstock)
Entre as inúmeras peças valiosas do museu da senhora Zentino, Squier se deparou com algo inesperado: um crânio humano com uma série de incisões cirúrgicas.
Ele ficou perplexo ao ver que essas incisões eram bastante precisas e limpas, tanto que pareciam ter sido feitas com instrumentos cirúrgicos modernos. No entanto, o crânio datava de muito antes da invenção desses instrumentos, o que deixou o pesquisador ainda mais surpreso.
Além disso, ele percebeu resquícios do crescimento de osso no local das incisões, o que indicava que o dono daquele crânio continuou vivo após o procedimento médico, fato impressionante já que a taxa de mortalidade em cirurgias na cabeça nesse período era altíssima em outros lugares do mundo.
De início, muitos daqueles que tiveram acesso ao crânio não acreditaram que aquelas marcas eram provenientes de uma trepanação — técnica de perfuração que remove parte do osso craniano — por uma civilização antiga, sendo mais absurdo que essa pessoa teria sobrevivido à cirurgia. Afinal, se já era complicado fazer cirurgias desse tipo na Era Moderna, imagine em tempos passados?
Será que ainda há fatos desconhecidos sobre os incas? (Fonte: Shutterstock)
Essa descrença só caiu por terra após o famoso professor Paul Broca, da Universidade de Paris, confirmar que as incisões do crânio trazido por Squier eram de fato feitas por sujeitos que sabiam o que estavam fazendo, ou seja, era uma técnica que eles dominavam.
Desde então, os demais pesquisadores tiveram que repensar como viam os povos antigos, principalmente com relação às práticas médicas.
Inclusive, em pesquisa recente, o neurologista David Kushner, da Universidade de Miami, concluiu que a taxa de sucesso das cirurgias cranianas feitas pelos incas era superior às feitas pelos cirurgiões da Guerra Civil Americana (1861 a 1865), alcançando 80% de êxito contra 50% dos americanos.