Ciência
22/01/2023 às 11:00•2 min de leitura
Apesar do medo de que inteligências artificiais (IA) se tornem tão absurdamente avançadas a ponto de ganharem autonomia e provocar a temida rebelião das máquinas, proposta por Mary Shelley em 1818, elas ainda são limitadas em muitos aspectos.
Além de custar muito caro criar e manter uma máquina que pode simular a inteligência humana, uma IA não é criativa – pensar fora da caixa não é seu forte –, não possui ou entende ética, não tem emoção, tampouco pode responder perguntas que exijam inferência.
Contudo, a ciência continua trabalhando para driblar esses problemas e conseguir inserir cada vez mais a IA na sociedade. Recentemente, pela primeira vez na história, um robô conduzido por IA vai defender um réu no tribunal.
(Fonte: Getty Images)
O robô advogado é uma criação da equipe de Joshua Browder, CEO da startup DoNotPay, que se autodenomina "a casa do primeiro advogado do mundo", e cuja missão é tornar acessíveis as informações sobre leis, ajudando as pessoas que precisam delas no cotidiano.
Conforme divulgado pelo USA Today, a IA atuará no tribunal no próximo mês dizendo aos réus o que falar via Bluetooth em dois casos contra multas por excesso de velocidade. Embora a empresa não tenha divulgado nenhum detalhe, incluindo as identidades dos réus, uma pessoa defenderá o caso pessoalmente, enquanto outra o fará via Zoom.
Engana-se quem imagina que o robô estará fisicamente no tribunal. A IA será executada em um smartphone, ouvindo os argumentos apresentados pelo juiz para então orientar o réu, que estará de fones de ouvido, sobre como deve responder.
Quanto à legislação ao redor dos réus poderem ou não usar fones de ouvido no tribunal, vigente na maioria dos estados, Browder disse à CBS que espera que “se esses casos forem bem-sucedidos, isso encoraje mais tribunais a mudarem as regras”.
Caso o primeiro advogado robô perca o caso, a empresa cobrirá os custos das multas.
(Fonte: T. Schneider/Shutterstock)
Até o momento, a IA de Browder foi usada apenas para garantir reembolsos por Wi-fi com defeito e contestar multas de estacionamento – o motivo pelo qual o empreendimento começou.
Em um vídeo no site da DoNotPay, o CEO explica que teve a ideia para começar o projeto com o excesso de multas que recebia depois que se mudou para a Inglaterra para estudar na Universidade de Stanford.
“Eu era péssimo motorista, comecei a acumular várias multas de estacionamento e não tinha dinheiro para pagar”, diz ele. “Então, eu me tornei um especialista jurídico sobre todos os motivos pelos quais as pessoas podem se livrar de multas de estacionamento. E, ao mesmo tempo, eu era um engenheiro de software e instruía meus amigos sobre o que fazer. Ficou meio óbvio que isso era algo que podia ser facilmente automatizado”.
Desde que fundou a DoNotPay, Browder disse que ajudou a vencer mais de 2 milhões de disputas de serviços e processos judiciais, porém ainda não tem planos de comercializar a empresa.
“Essa experiência no tribunal é mais uma maneira de encorajar o sistema a mudar”, contou ele.