Ciência
08/02/2023 às 02:00•2 min de leitura
Recentemente, a Colossal Laboratories & Biosciences, uma startup sediada nos Estados Unidos, lançou um planejamento ousado: ir o mais longe possível para replicar o Dodô (Raphus cucullatus), uma ave extinta há centenas de anos, e retirar a espécie da lista de animais extintos. Para cumprir seu objetivo, a empresa já recebeu mais de US$ 150 milhões em financiamento.
Os dodôs foram pássaros que passaram alguns milhões de anos vivendo de forma isolada nas tropicais Ilhas Maurício, na África Oriental. Nesse lugar, eles foram se adaptando ao longo do tempo para se tornarem um grupo de pássaros que não voava mais e vivia livre de predadores entre tartarugas e lagartos gigantes. Quando os humanos chegaram na região, no entanto, o balanceamento natural ruiu aos poucos e essas criaturas sumiram do planeta.
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Ressuscitar os dodôs
(Fonte: Wikimedia Commons)
A ideia de "deextinção" de uma espécie, ou ressurreição biológica, é algo muito debatido pela ciência ao longo do tempo. Além dos dodôs, a Colossal Laboratories & Biosciences também tem seus planos para trazer os mamutes lanosos e os tilacinos de volta à vida. Em 2022 uma equipe da Universidade da Califórnia, liderada pela professora Beth Shapiro, mapeou o genoma da ave extinta pela primeira vez na história.
Tentativas anteriores usando uma espécie de Oxford, no Reino Unido, não haviam obtido sucesso. Porém, um novo DNA bem preservado vindo da Dinamarca trouxe resultados completamente diferentes. De qualquer forma, os pesquisadores acreditam que mesmo munidos de um genoma completo ainda seria muito difícil trazer de volta o dodô, devido aos obstáculos relacionados à reprodução aviária.
Em entrevista à Associated Press, Shapiro afirmou que o sonho permanece apesar das diversas barreiras apresentadas. Até agora, além de mapear o DNA, a equipe também conseguiu identificar o parente mais próximo do dodô: o pombo-de-nicobar. Para as próximas etapas, será preciso estudar quais as principais diferenças entre esses dois animais e identificar "o que torna um dodô, um dodô". Depois disso, eles tentarão editar as células do pombo-de-nicobar para que se pareçam com as do pássaro extinto.
(Fonte: Wikimedia Commons)
No fim das contas, o objetivo dos pesquisadores não é criar uma cópia exata do que era o dodô, mas sim uma versão alterada. Em sua fala, Shapiro disse que "é impossível recriar uma cópia 100% idêntica de algo que se foi". Desaparecido há mais de 300 anos, os dodôs eram enormes aves com asas inúteis — o que tornava essa espécie bastante única.
Dentro do meio científico, há quem acredite que os esforços feitos pelo Colossal Biosciences para trazer animais extintos de volta à vida é desnecessário. Na imprensa internacional, a startup foi criticada diversas vezes por não estar gastando o dinheiro que recebeu em tentativas de salvar espécies em risco em vez de tentar reviver criaturas que não andam mais entre nós.
“Tem gente que acha que porque você pode fazer algo, você deve, mas não sei a que propósito isso serve e se essa é realmente a melhor alocação de recursos. Devemos salvar as espécies que temos antes que elas sejam extintas", disse o vice-diretor do Laboratório Europeu de Biologia Molecular, Ewan Birney, ao The Guardian.
Apesar das generalizadas preocupações, tudo indica que ainda existe um amplo apoio ao trabalho do mais novo empreendimento da Colossal. Desde que foi lançada em 2021, a startup já conseguiu arrecadar mais de US$ 225 milhões para seus ambiciosos projetos.