
Ciência
08/06/2023 às 13:00•2 min de leitura
Um escritor norte-americano chamado Robert Carlton Brown, que viveu parte de sua vida no Brasil, foi a primeira pessoa a propor e desenvolver um projeto envolvendo dispositivos mecânicos para exibir palavras em movimento. Isso significa que, depois de sair de uma sessão de cinema em 1930, Bob Brown estava projetando o primeiro e-book 70 anos antes de sua efetiva criação.
Mergulhado em um mundo onde as artes se tornavam cada vez mais virtuais, através das modernas salas de exibição de filmes e dos fonógrafos que levavam gravações de canções para as casas das pessoas, o escritor achava que “a palavra escrita não acompanhou o tempo”.
Falando especificamente sobre os primeiros filmes sonoros lançados a partir de 1927, Brown dizia: "Temos os talkies, mas ainda não os Readies. Chega da tirania do papel e da tinta! A escrita foi engarrafada em livros desde o início". O seu projeto — The Readies — era menos um dispositivo e mais um manifesto artístico.
Protótipo da máquina de ler no manifesto The Readies.
Batizado de "Os Readies: Uma Proposta Modesta para Converter Todos os Livros em uma Nova Máquina de Leitura" o projeto de Brown apresentava muitas das funcionalidades dos e-readers atuais. Seu design “permitiria aos leitores ajustar o tamanho do tipo e evitar cortes de papel”, assim como “ler romances de cem mil palavras em 10 minutos”, diz a descrição.
Como na época não existia e-ink — a tinta eletrônica —, a solução encontrada foi utilizar compridas fitas de texto minúsculo, para serem roladas manualmente pelos leitores por trás de uma tela de aumento.
Os Readies eram, na verdade, uma combinação de máquinas leitoras de microfilme com fitas adesivadas. Ou seja, mais pesados que os Kindles, porém bem mais leves que uma biblioteca convencional.
Foto de Bob Brown no ano em que lançou os Readies.
Quando Bob Brown lançou o manifesto Readies, ele já era mundialmente conhecido, pois atuava em quase todos os saberes: publicidade, jornalismo, ficção, poesia, etnografia, roteiro e até livros de receitas. Em outro pioneirismo, ele escreveu, quando morava no Brasil, o que seria o roteiro da primeira série da História: What Happened to Mary?, exibida nos cinemas em 12 capítulos, que sempre terminavam com um gancho.
No entanto, mesmo com o apoio de intelectuais de peso, como Gertrude Stein e Ezra Pound, os Readies acabaram desaparecendo, ofuscados talvez pela chegada do Technicolor e das televisões.
A ideia, como sabemos hoje, era muito boa; apenas um pouco avançada para a época. Em 1971, o estudante Michael S. Hart, da Universidade de Illinois, criou o primeiro e-book digitalizado: uma versão eletrônica da Declaração de Independência dos EUA. Em 2007, Amazon lançou o Kindle.