Ciência
10/08/2023 às 10:00•2 min de leitura
Definido como "um experimento histórico" por cientistas do Observatório Real da Bélgica, um estudo constatou que o planeta Marte passou a girar mais rápido. Ainda sem uma explicação comum para o motivo, a velocidade de rotação está aumentando à taxa de 4 milissegundos por ano, o que corresponde a um encurtamento do dia marciano em frações de milissegundo.
Para conseguir detectar tais alterações tão sutis, os autores do estudo utilizaram dados fornecidos pela InSight, uma sonda espacial da NASA que pousou no Planeta Vermelho em 26 de novembro de 2018. Apesar de ficar sem energia em dezembro do ano passado, o transponder de rádio do equipamento (conhecido como RISE) conseguiu coletar mais de quatro anos de dados.
O artigo publicado recentemente na revista Nature trabalhou com medições feitas nos primeiros 900 dias da missão em Marte: o funcionamento do RISE consistia em enviar ondas de rádio para o espaço e avaliar quanto tempo elas levavam para voltar à superfície do planeta. Foi como se a InSight fotografasse cada giro planetário.
O estudo não expressa um consenso sobre o que está causando realmente a aceleração na rotação de Marte, mas algumas teorias são discutidas. Uma delas propõe que o acúmulo de gelo nos polos do planeta pode estar alterando a distribuição de sua massa.
Outra explicação, o chamado rebote pós-glacial, afirma que massas de terra podem se elevar após terem sido soterradas pelo gelo por milênios.
Finalmente, há a questão do núcleo marciano, observado de forma inédita pela InSight. O estudo revelou um núcleo irregular, menor que o da Terra, mas extenso em relação ao planeta. Nessa teoria, o material derretido se “espalha” à medida que Marte gira.
(Fonte: NASA/JPL-Caltech)
Conhecer a estrutura interior e também a atmosfera de Marte é fundamental para compreender como o planeta se formou e evoluiu. A grande questão até agora é que esses dados sobre o interior planetário ainda não estavam acessíveis. Nesse sentido, os dados da missão InSight representam um ponto de inflexão, pois permitiram separar informações do núcleo, do manto e da crosta.
A análise dos sinais do RISE possibilitou uma medição inédita da chamada "nutação", que é como o planeta oscila devido à agitação do seu interior líquido. Isso eliminou de vez a tese de um núcleo totalmente sólido em Marte, estimando a existência de um núcleo líquido com "raio de 1.835 quilômetros, com margem de erro de 55 quilômetros, e uma densidade média de 5.955 a 6.290 quilos por metro cúbico", diz o estudo.
"Resultados como este fazem todas essas décadas de trabalho valerem a pena", declarou em um release Bruce Banerdt, coautor do trabalho que se aposentou do cargo de principal pesquisador da InSight, após 46 anos de trabalho.