Vida achada em Marte há 50 anos pode ter sido destruída sem querer

18/08/2023 às 09:002 min de leitura

Em um artigo publicado recentemente no portal Big Think, o astrobiólogo alemão Dirk Schulze-Makuch faz uma revelação surpreendente: uma antiga missão da NASA já descobriu vida em Marte, na década de 1970, mas, sem querer, acabou matando as amostras de compostos orgânicos.

O fato teria ocorrido em 1976, quando as sondas Viking 1 e Viking 2, lançadas no ano anterior pela agência aeroespacial norte-americana, conduziram na superfície marciana os únicos experimentos de detecção de vida já realizados em outro planeta. Os resultados dos testes realizados ainda hoje são considerados confusos.

Embora o cientista líder do projeto, Gerald Soffen, tenha proferido na época as famosas palavras “sem corpos, sem vida”, há controvérsias, pois, em uma parte dos experimentos, foram encontrados vestígios de compostos orgânicos clorados (COCs). Como eles são muito comuns na Terra, os cientistas acreditaram que essas amostras eram contaminantes levados pelas próprias sondas. 

Como foi o experimento de detecção de vida em Marte na década de 1970?

(Fonte: NASA/Viking Project)(Fonte: NASA/Viking Project)

Esse primeiro experimento — chamado de liberação marcada — adicionou água com nutrientes e carbono radioativo no solo de Marte. A ideia era que, se houvesse vida, os supostos micro-organismos consumiriam os nutrientes e eliminariam o carbono radioativo em forma de gás, o que realmente aconteceu. 

No entanto, os testes posteriores mostraram-se inconclusivos. A hipótese era que, se houvesse mesmo micróbios no solo, administrar mais nutrientes radioativos e incubá-los por mais tempo, teria que produzir uma quantidade maior de gás radioativo. 

Mas não foi o que ocorreu: uma segunda e até uma terceira injeção da mistura não produziram nenhum gás. Por isso, os cientistas da época atribuíram o sucesso inicial à presença de perclorato, um composto usado em combustível de foguetes que, presente no módulo de pouso, poderia ter metabolizado os nutrientes. 

O que diz o especialista em habitabilidade planetária?

(Fonte: Schulze-Makuch et al.)(Fonte: Schulze-Makuch et al.)

Em seu artigo, Schulze-Makuch explica que, após oito sondas e rovers terem explorado a superfície marciana, sabemos atualmente que compostos orgânicos nativos existem realmente em Marte. No entanto, essas substâncias orgânicas estão em uma forma clorada, o que talvez não fosse o esperado pelas equipes do Projeto Viking. 

Também não se sabe se elas "derivam de processos biológicos ou de algumas reações químicas abióticas que nada têm a ver com a vida", diz o professor alemão. Para ele, na época daqueles pousos, os cientistas ainda tinham muito pouco conhecimento sobre ambientes áridos, como o marciano

Citando experimentos feitos por ele e outros pesquisadores no deserto do Atacama, no Chile, Schulze-Makuch explica que há bactérias que vivem inteiramente dentro das rochas de sal, atraindo água diretamente da umidade relativa do ar, em um processo chamado de higroscopicidade. Se esse for o caso de Marte, provoca o astrobiólogo, é possível afirmar que as possíveis formas de vida tenham sido "afogadas" nos testes da Viking

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