Ciência
08/09/2023 às 04:00•2 min de leitura
Uma forma popular de obter água em países como Peru, Bolívia e Chile, a captação atmosférica através de uma malha que absorve o precioso líquido da neblina, acaba de obter um sistema de proteção de poluentes projetado por pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Zurique, na Suíça.
Descrito em um artigo publicado recentemente na revista Nature Sustainability, o novo sistema foi projetado racionalmente para "captar neblina com alta eficiência e, ao mesmo tempo, degradar poluentes orgânicos", diz o estudo.
A poluição atmosférica tornou-se uma desvantagem crítica para esse método usado por comunidades distantes de recursos hídricos, para captação de água potável. Isso porque as substâncias perigosas acabam se juntando às gotículas de água, o que demanda que o líquido captado tenha que ser tratado, antes de usado para beber ou cozinhar.
(Fonte: Ghosh et al.)
O novo método de captação hídrica desenvolvida pelos cientistas do ETH Zurique utiliza "uma rede de arame metálico revestida com uma mistura de polímeros especialmente selecionados e dióxido de titânio". Enquanto os polímeros asseguram que as gotas de água se acumulem de forma mais eficiente, o dióxido de titânio, um conhecido pigmento branco, funciona como catalisador químico, quebra as moléculas dos poluentes orgânicos.
De acordo com o primeiro autor do artigo, Ritwick Ghosh, cientista do Instituto Max Planck para Pesquisa de Polímeros em Mainz, na Alemanha, “Nosso sistema não apenas coleta neblina, mas também trata a água coletada, o que significa que pode ser usado em áreas com poluição atmosférica, como centros urbanos densamente povoados”, explica em um release.
Quanto ao custo de manutenção da tecnologia, depois de instalada, ele é praticamente inexistente, pois a única energia demanda pelo catalisador para funcionar é uma pequena dose regular de raios ultravioleta, leia-se meia hora de luz solar. Isso é suficiente para reativar o óxido de titânio por mais 24 horas – graças à chamada memória fotocatalítica, que permite o funcionamento do aparelho durante longos períodos, mesmo no escuro.
(Fonte: Ghosh et al.)
Para comprovar suas hipóteses, os pesquisadores testaram o novo coletor de neblina em laboratório, e também em uma pequena fábrica piloto em Zurique.
A equipe conseguiu coletar 8% da água de uma neblina criada artificialmente, e quebrar impressionantes 94% de todos os compostos orgânicos adicionada a ela, que incluíam pequenas gotas de óleo diesel e o perigoso produto químico bisfenol A (BPA).
Além da captação da água potável diretamente do nevoeiro, outra aplicação pode ser feita através das torres de resfriamento industriais. Nesses equipamentos, "o vapor escapa para a atmosfera. Nos Estados Unidos, onde moro, usamos muita água doce para resfriar usinas", diz Thomas Schutzius, coautor e professor na Universidade da Califórnia em Berkeley.