Saúde/bem-estar
01/09/2023 às 06:30•2 min de leitura
Longe de seus habitats naturais na floresta, linces e lobos têm se aproveitado do desastre de Chernobyl para dominar outros territórios. Enquanto o primeiro grupo caça em campos agrícolas e adormece em estradas asfaltadas, o último prospera em aldeias abandonadas, abrigando-se e reproduzindo-se em cemitérios.
Em toda a Reserva Radioecológica do Estado da Polésia, (PSRR), no sul da Bielorrússia, a densidade de ambas as espécies é excepcionalmente elevada. E eles não são os únicos: espécies como os ursos pardos também passam boa parte do verão nessa região. Entenda como o incidente nuclear alterou o ecossistema dessa parte do mundo!
(Fonte: GettyImages)
No lado bielorrusso da enorme área esvaziada de humanos pelo desastre de Chernobyl em 1986, a história desses animais permaneceu desconhecida para a maior parte do mundo por anos. Enquanto a Ucrânia abriu a sua Zona de Exclusão a cientistas estrangeiros, a Bielorrússia restringiu o acesso, permitindo apenas os seus próprios investigadores.
Durante mais de 35 anos, este pequeno grupo de cientistas dedicados observou e documentou mudanças inesperadas no comportamento e na biodiversidade. Todas essas observações coletadas foram publicadas apenas no final de 2022, em um estudo chamado A Diversidade Biológica do Mundo Animal da Reserva Radioecológica do Estado de Polésia.
O grosso livro, disponível apenas em russo, passou despercebido pela comunidade científica e ambientalistas ocidentais. Dado o difícil clima político interno na Bielorrússia e a guerra na vizinha Ucrânia, o PSRR permaneceu quase totalmente fora dos limites das pesquisas — embora o novo estudo dê um vislumbre do que está acontecendo na região.
(Fonte: GettyImages)
Enquanto Chernobyl se encontra na Ucrânia, a catástrofe da central nuclear enviou nuvens radioativas para o norte, atingindo a Bielorrússia e contaminando o mosaico de terras agrícolas abandonadas ali. À medida que a catástrofe se desenrolava, cerca de 22 mil pessoas foram forçadas a abandonar a região.
Barragens foram construídas para evitar que a água radioativa fluísse para áreas densamente povoadas. Como resultado, pântanos drenados ao longo do rio Pripyat para a agricultura foram restabelecidos. Os predadores, então, começaram a aparecer logo em seguida.
Os lobos sempre foram considerados pragas nessa parte do mundo, sendo atacados com incentivos governamentais. Os linces, por sua vez, apareciam de vez em quando, mas como a área era densamente povoada sempre fugiam. Já os ursos nunca cogitaram estar por perto. Dessa forma, é possível entender como o desastre de Chernobyl criou um novo ecossistema mais "amigável" para tal tipo de predador.
(Fonte: GettyImages)
Apesar de agora serem espécies mais populosas na Bielorrússia, os predadores que surgem aos montes na região possuem hábitos de caça diferentes de semelhantes em outras partes do mundo. Segundo os pesquisadores, esse comportamento comum é provavelmente um reflexo da atividade humana no passado e sua falta no presente.
Muitos animais, como os javalis, usam casas e outros edifícios abandonados como abrigo, criando áreas ricas em presas, enquanto terras agrícolas circundantes tornaram-se habitat ideal para veados e lebres. Logo, os predadores se depararam com "banquetes" de fácil acesso.
A atividade humana, incluindo a caça e a destruição de habitats para a agricultura, expulsaram essas espécies da Bielorrússia no passado. Agora, os fantasmas da relação humana fazem com que elas encontrem um novo lar bem diferente do que um dia já foi, criando o cenário da vida selvagem mais singular da Europa.