Artes/cultura
06/03/2023 às 04:00•3 min de leitura
Na noite do dia 26 de abril de 1986, uma explosão no reator 4 da usina nuclear de Chernobyl foi responsável por uma das maiores crises da história da humanidade. Com mais de 100 vezes a quantidade de radiação liberada no bombardeio de Hiroshima, Chernobyl passou de cidade modelo para um local abandonado em questão de poucos dias, dando origem à chamada Zona de Exclusão.
Mas enquanto as pessoas foram evacuadas, a vida selvagem continuou seguindo seu próprio rumo. Agora, quase quatro décadas após a explosão, a vegetação voltou a tomar conta da região e os animais que conseguiram suportar os elevados índices de radiação parecem estar melhores do que nunca.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Em 1994, o cavalo-de-przewalski foi classificado como extintos na natureza. O avistamento selvagem mais recente datava da década de 1960, o que significava que eles estavam vivendo em grupos muito pequenos e em áreas remotas — no início do século XX, esses animais eram encontrados da Mongólia até o Leste Europeu.
Mas ainda na década de 1990, Mike Wood e Nick Beresford, dois os ecologistas britânicos que se especializaram em estudar os efeitos da radiação na vida selvagem de Chernobyl, perceberam que o cavalo-de-przewalski estava voltando a números mais expressivos na Zona de Exclusão. Os animais vêm sendo monitorados desde então, e o grupo parece estar crescendo de maneira consistente.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Uma lenda bastante comum afirma que as baratas seriam os únicos animais que sobreviveriam a um desastre nuclear. Porém, Chernobyl tem demonstrado que talvez a situação seja um pouco diferente. Enquanto a maioria dos vertebrados tem conseguido resistir à radiação, insetos e aranhas tiveram uma grande queda em seus números.
Um estudo de 2009 indicou que quanto mais radiação havia em certos locais ao redor da área do desastre de Chernobyl, menor a população de invertebrados. E esse é um padrão que também foi observado após o acidente nuclear de 2011 na usina nuclear de Fukushima.
(Fonte: Mental Floss)
Segundo um estudo de 2011, animais tiveram 20 vezes mais as mutações genéticas na região de Chernobyl, do que quando comparados com populações de outras áreas. Eles ainda estão um pouco distante de se tornarem criaturas monstruosas com vários olhos, mas já é possível notar algumas mudanças. A radiação afeta o DNA, fazendo com que pequenas características possam surgir por acaso.
Enquanto os animais que estavam próximos da usina nos primeiros dias provavelmente morreram devido a alta quantidade de material radioativo, os que sobreviveram provavelmente tiveram seu material genético alterado em diferentes níveis. Um exemplo desses animais mutantes é a andorinha. Biólogos já relataram que o número dessas aves com albinismo é maior na Zona de Exclusão do que fora dela.
Áreas com níveis mais altos de radiação também parecem ter dado origem a populações de pássaros com cérebros menores, esperma menos viável e diminuição da diversidade e abundância de espécies.
(Fonte: Unsplash)
O césio-137 tem uma meia-vida de mais de 30 anos. Em determinados organismos, a radiação pode ser acumulada por algumas gerações, como é o caso de alguns fungos. Como eles são alimentos de pequenos roedores, algumas espécies apresentam uma concentração particularmente elevada.
Até o momento, as principais consequências envolvem animais menos férteis em áreas com maiores concentrações de radiação, com uma queda correspondente nas populações em geral. Eles também demonstraram ter taxas mais altas de catarata do que os animais de fora da Zona de Exclusão.
(Fonte: Mental Floss)
Muitos animais domésticos foram abandonados em Chernobyl após o acidente nuclear. Como esses animais não se espalham por grandes territórios, a maioria foi deixada viva. Agora, uma organização chamada Clean Future Fund trabalha em uma campanha para fornecer cuidados médicos, vacinas e até comida para os filhotes de cães e gatos de Chernobyl. E desde 2018, os cães que foram identificados como tendo níveis seguros de radiação passaram a ser adotados.