Estilo de vida
06/10/2023 às 12:00•2 min de leitura
Um novo estudo joga um pouco de luz ao pouco que se sabe sobre os povos que habitaram a região da atual Arábia Saudita antes do período Holoceno, no que conhecemos como Plaistoceno. Novas descobertas indicam que conhecidos sítios arqueológicos podem ter sido usados como abrigos muito antes do que se imaginava. Pesquisadores descobriram desenhos de camelos em tamanho real em algumas cavernas, que foram aparentemente redesenhados e reforçados ao longo de milênios. Agora, novas técnicas de datação indicam que as figuras foram feitas muito antes do que se imaginava.
As gravuras, esculpidas com pedras no interior de cavernas, foram encontradas no sítio arqueológico de Sahout, no deserto de Nafud, no centro norte da Arábia Saudita. Ao todo, somam nove novas gravuras de camelos em tamanho real distribuídas ao longo de cinco painéis.
Representação do traçado dos desenhos encontrados. (Fonte: Archaeological Research in Asia/ Maria Guagnin et. al 2023/Reprodução)
As gravuras são de uma espécie de camelo já extinta e contêm até detalhes da pelagem dos animais. A espécie em questão ainda não foi nomeada, mas paleontólogos já têm registros da sua existência e de algumas características, como a grossa pelagem para o inverno. Em muitos casos, as pinturas foram reforçadas ou novos desenhos foram talhados em cima dos originais, demonstrando que os sítios foram revisitados várias vezes. Mas o que mais chama a atenção dos pesquisadores são as novas datações.
Segundo a análise de radiocarbono, a arte nas cavernas pode ter sido feita no período Pleistoceno, que vai de 2,6 milhões a 11.700 anos atrás, e o local continuou a ser visitado até a metade do Holoceno (entre 7 mil e 5 mil anos atrás).
Este é um dos primeiros casos de arte rupestre com datação tão antiga. E os achados vão permitir que pesquisadores possam comparar novos sítios descobertos com as características de desgaste similares à de Sahout. Para analisar os novos achados, os arqueólogos precisaram enfrentar temperaturas de até 42 °C e se esgueirar por longas cavernas, já que muitos desenhos ficam quase no nível do chão. As descobertas ajudam a entender um pouco melhor a ocupação dos desertos do Oriente Médio.
Registros arqueológicos são bem mais ricos a partir do ano 6000 a.C, quando provavelmente se iniciou a domesticação de animais na região que permitiu a semissedentarização de alguns agrupamentos. As novas descobertas, porém, mostram que povos nômades podem ter habitado a região muito antes do que se imaginava e com um grau de complexidade também maior.
O artigo completo com as novas descobertas foi publicado na revista Archaeological Research in Asia e está disponível no site Science Direct. O estudo envolveu 17 pesquisadores e foi liderada por Maria Guagnin, do Max Planck Institute of Geoanthropology, na Alemanha.