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04/11/2023 às 08:00•3 min de leitura
"A poluição mata três vezes mais pessoas por ano do que o HIV/AIDS, tuberculose e malária combinados", diz o IHME Global Health Data Exchange Tool, catálogo mais abrangente do mundo em pesquisas, censos, estatísticas e outros dados relacionados à saúde.
O planeta começou a sufocar desde a Revolução Industrial do século XIX, em resposta direta à urbanização e ao aumento populacional. A Londres daquela época ficou conhecida por seus nevoeiros nocivos, feitos de uma combinação de fumaça e neblina provenientes das chaminés fabris e da queima doméstica de carvão. No entanto, hoje a poluição é uma combinação de ozônio ao nível do solo, produzido pela reação de poluentes, como óxido de nitrogênio com outros compostos orgânicos e partículas finas transportadas pelo ar.
Inclusive, em 2020, um estudo publicado na revista Nature por um grupo de pesquisadores chineses indicou que, dos 137 países analisados, as partículas finais encontradas no ar e geradas na queima de combustíveis fósseis foram responsáveis por 40% dos natimortos na América Latina, Ásia e África em 2015. A cada ano, mais de 30 gigatoneladas de CO2 são liberadas na atmosfera da Terra, em sua maioria oriunda do uso de combustíveis fosseis, da geração de energia por canais não renováveis e das atividades humanas poluentes.
(Fonte: Getty Images)
Há tempos que os humanos e seus processos desestabilizaram o ciclo de carbono do planeta. A "Pesquisa de Sensoriamento Remoto", da Avaliação Global de Recursos Florestais, mostrou que o desmatamento anual diminuiu cerca de 11 milhões de hectares (29%) por ano entre 2000 e 2010. Enquanto isso, 2021 testemunhou o pior ano em termos de incêndios florestais desde a virada do século, causando uma perda alarmante de 9,8 milhões de hectares de cobertura arbórea a nível mundial.
Com tudo isso que tem acontecido, unido ao fato de que as cidades tem cada vez mais espaço verde limitado, as árvores líquidas são a alternativa para melhorar a qualidade do ar nas áreas urbanas.
(Fonte: Getty Images)
Atualmente, a China lidera o ranking dos países que mais poluem no mundo, com mais de 10,065 milhões de toneladas de CO2 liberadas, seguido pelos Estados Unidos (5,16 milhões de toneladas) e Índia (2,654 milhões de toneladas).
A poluição do ar nas áreas urbanas afeta a vida de mais de 2,5 bilhões de pessoas, aumentando o risco de doenças cardíacas, derrames, câncer de pulmão e doenças respiratórias. As árvores são consideradas os pulmões da natureza, responsáveis por transformarem dióxido de carbono em oxigênio, purificando o ar no processo.
Já as árvores líquidas são uma iniciativa desesperada do governo da Sérvia para tentar melhorar sua qualidade do ar. Atualmente, Belgrado, a capital do país, é uma das cidades mais poluídas do mundo e a detentora de duas das maiores usinas de carvão, inclusas na lista "dez usinas mais sujas da Europa", feita pela Health and Environment Alliance (HEAL) em 2019. Com isso, a Sérvia foi colocada em primeiro lugar no ranking de países que mais matam por poluição na Europa, segundo a "Análise Global, Regional e por País de Métricas de Poluição e Saúde", um relatório da Aliança Global para Saúde e Poluição.
A Sérvia tem uma concentração de PM 2,5 que está 4,9 vezes acima do valor da diretriz anual de qualidade do ar da Organização Mundial da Saúde (OMS). Portanto, não é surpresa que os cidadãos do país sofram com os efeitos colaterais intensos da poluição. Assim como alguns ativistas estão certos de alegarem que "a poluição pode ser vista, cheirada e degustada" em algumas estações do ano, principalmente no inverno.
(Fonte: Getty Images)
Liderado por Ivan Spasojevic, PhD em ciências biofísicas, um projeto do Instituto de Pesquisa Multidisciplinar da Universidade de Belgrado desenvolveu o que estão chamando de árvore líquida, uma ferramenta para reduzir as emissões de gases de efeito estufa nos centros urbanos e melhorar a qualidade do ar. Também chamada de LIQUID 3, a criação é o primeiro fotobiorreator urbano da Sérvia. Contendo 600 litros de água, o dispositivo funciona por meio de microalgas que se ligam ao dióxido de carbono e produzem oxigênio puro ao realizar a fotossíntese.
Segundo a pesquisa, as microalgas, encontradas em corpos aquáticos em todo o globo terrestre, podem substituir duas árvores de 10 anos ou até 200 metros quadrados de grama. Os cientistas priorizaram escolher algas unicelulares de água doce porque se criam em qualquer ambiente.
O objetivo não é substituir as florestas ou planos de plantio de árvores, mas usar essa árvore líquida para preencher os bolsões urbanos onde não há mais espaço para plantio. Além disso, em condições de poluição muito intensa, como acontece tanto em Belgrado quanto na China, muitas árvores não conseguem sobreviver por serem vulneráveis aos grandes níveis de poluição, muito diferente das algas.
(Fonte: Liquid3/Divulgação)
Estima-se que as cidades sejam fonte de até 75% das emissões totais de CO2 no mundo, das quais a maior porcentagem vem do tráfego de veículos e do resfriamento e aquecimento em edifícios. Atualmente, 59% da população sérvia vive em áreas urbanas, sendo que o número aumenta cada vez mais. Com uma densidade populacional tão alta, criar árvores verdes ou plantá-las é uma meta complexa a ser alcançada, pois faltam áreas livres para paisagismo. Por isso, no momento, as árvores líquidas são a única alternativa paliativa para a purificação do ar.
O município de Stari Grad, em Belgrado, com uma das maiores taxas de emissão de CO2, foi o primeiro a aderir à iniciativa para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. O LIQUID 3 foi posicionado na Rua Makedonska, e é muito mais do que apenas uma árvore líquida, serve também como bancada, podendo carregar celulares, além de ser um painel solar.
A manutenção do sistema é simples, basta remover a biomassa criada pela divisão de algas e despejar água e minerais novos para que as algas continuem a crescer indefinidamente. Inclusive, a biomassa pode ser usada como fertilizante. Com esse projeto, Spasojevic também visa popularizar e ampliar o uso de microalgas, pois podem ser usadas no tratamento de efluentes, como composto para áreas verdes, produção de biomassa e biocombustíveis.