Você sabe dizer por que fazemos apenas três refeições diárias?

06/02/2017 às 03:004 min de leitura

“É importante tomar o café da manhã, almoçar e jantar em horários regulares”. “Você não deve ficar comendo entre uma refeição e outra, pois isso tira o apetite”. “Não se deve pular nenhuma refeição, para não prejudicar a saúde”.

Todo mundo já ouviu frases parecidas com essas pelo menos uma vez na vida, e a maioria das pessoas tenta seguir esses conceitos à risca. Contudo, segundo diversos especialistas, deveríamos estar fazendo jejum ou comendo mais vezes ao dia. Confuso, não? Calma, que já explicamos.

A culpa é dos europeus

Historicamente, o hábito de se alimentar três vezes ao dia surgiu na Europa Medieval. Os agricultores acordavam cedo, tomavam mingau frio e iam cultivar os campos. Quando o sol estava no zênite, era hora de descansar, fazer uma refeição mais substancial para recuperar as forças e se preparar para o resto do dia de trabalho. Ao voltarem para casa, tinham mais uma refeição como a da manhã e então era hora de irem para cama e começar tudo de novo na manhã seguinte.

Ao chegarem à América durante as Grandes Navegações, os colonizadores europeus trouxeram também esses hábitos alimentares com eles. Ao estabelecerem contato com os nativos, perceberam que a frequência com que estes comiam variava conforme as estações do ano. No inverno, por exemplo, era comum que membros de tribos indígenas na América do Norte jejuassem devido à escassez de alimentos.

Os “descobridores” tomaram isso como mais uma evidência de que os índios não eram civilizados, afinal quem em sã consciência passaria fome voluntariamente? Uma pessoa deveria ter horários para comer ou não seria muito diferente de um animal. Europeus achavam os hábitos de alimentação dos nativos tão intrigantes que até paravam para assisti-los comer como uma forma de entretenimento.

Da Revolução Industrial ao cereal matinal

Quando os centros urbanos passaram a se desenvolver e o homem começou a deixar o campo, a fonte de renda de muitos era trabalhar em fábricas no centro da cidade enquanto moravam no subúrbio. Isso quer dizer que não era mais possível retornar para casa para almoçar, então era necessário incrementar mais o café da manhã, comer algo simples durante a tarde e tornar o jantar a refeição mais pesada do dia.

A quantidade de comida, no entanto, permaneceu idêntica à da época em que o homem vivia do cultivo. A vida mais sedentária da cidade não fez com que as pessoas diminuíssem o tamanho das refeições em relação ao que se comia nos tempos da laboriosa vida no campo. Médicos, preocupados com o aumento exponencial dos casos de indigestão, passaram a recomendar que as pessoas pegassem mais leve no café da manhã.

Aí é que surge a oportunidade perfeita para os irmãos Will Keith e John Harvey Kellogg. Em 1897, eles apresentaram ao mundo os seus cereais matinais como uma alternativa às pesadas refeições consumidas pela manhã. Apesar de não fazerem tanto sucesso por aqui, nos EUA os cereais são uma indústria fortíssima.

A refeição mais importante

Aproveitando a popularização da ideia de que as pessoas deveriam consumir coisas mais saudáveis pela manhã, associações produtoras de frutas começaram a promover a ideia de que não mais o almoço, mas sim o café da manhã era a refeição mais importante do dia e, por isso, deveria ser também a mais saudável.

Com isso, explodiram as vendas de alimentos naturais, principalmente quando os cientistas começaram a descobrir a importância das vitaminas para nossa saúde. Quem aí nunca assistiu a um filme americano em que aparece alguém tomando suco de laranja ou passando geleia de frutas em uma torrada antes de ir para o colégio ou para o trabalho?

Até aqui, tudo muito bonito, tudo muito legal. Mas, afinal, é realmente essencial que façamos três refeições sempre? Para muitos pesquisadores do assunto, a resposta é não. Na verdade, fazer jejum pode ser mais benéfico para a saúde do que tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias, desde que isso seja feito corretamente.

O que a Ciência diz

Um estudo realizado pela Universidade de Bath, no Reino Unido, comprovou que pessoas que pulam o café têm o mesmo nível médio de queima diária de calorias que alguém que faz seu desjejum regularmente.

Sim, quem come pela manhã ingere mais calorias, mas o metabolismo faz um esforço a mais para processar esse ganho calórico extra e depois se estabiliza mais ou menos no mesmo ritmo de um indivíduo que não come nada ao acordar.

Uma pesquisa similar realizada na Universidade do Alabama, EUA, mostrou que pessoas em dieta que tomam café da manhã perdem peso na mesma proporção de quem não toma. Ou seja, essa refeição não causa praticamente impacto nenhum no nosso organismo, metabolicamente.

Dois, três, cinco ou seis?

Na verdade, o problema não está somente na refeição matinal, mas em todas elas. Um estudo publicado em 2010 no Jornal Britânico de Nutrição comparou dois grupos: um que fazia três refeições diárias e outro que fazia seis, sendo que o total calórico nos dois lados era o mesmo. Os pesquisadores não encontraram nenhuma diferença hormonal ou de ganho de peso entre os participantes.

Em 2014, cientistas da Universidade de Warwick, na Inglaterra, também não encontraram nada que diferenciasse o metabolismo de um grupo de mulheres que se alimentava duas vezes ao dia de outro que comia cinco vezes diariamente. Isso significa dizer que a quantidade de refeições não é tão importante quanto a qualidade.

Algo que talvez possa realmente causar algum tipo de alteração na forma como o metabolismo age é a prática considerada incivilizada pelos colonizadores europeus: o jejum periódico.

Que tal fazer jejum para viver mais?

O neurocientista Mark Mattson, do National Institute on Aging (Instituto Nacional sobre o Envelhecimento, em tradução livre), nos Estados Unidos, observou ao longo dos últimos 20 anos diversos experimentos com ratos de laboratório que mostraram que os espécimes que pulam refeições são mais esguios e vivem por mais tempo do que os que se alimentavam com frequência, além de possuírem células cerebrais mais robustas.

Segundo Mattson, ele mesmo um adepto dos jejuns intermitentes, a privação de calorias faz com que as células aumentem suas defesas, como se elas se tornassem mais atentas. Isso as torna mais resistentes a outros agentes, como o próprio envelhecimento celular, toxinas ambientais e ameaças semelhantes. Uma pesquisa relacionada mostrou que jejuar pode ajudar até mesmo a prevenir doenças cardíacas.

Em 2012, outro estudo realizado com ratos observou que aqueles que consumiam todas as calorias diárias em um espaço de oito horas tinham menor propensão a desenvolver doenças relacionadas ao metabolismo, como diabetes. Um acompanhamento feito no ano passado confirmou o resultado.

Comer ou não comer? Eis a questão

Afinal, o certo é comer menos, comer mais, fazer jejum ou não? Na verdade, é você quem deve descobrir, pois o metabolismo de cada pessoa funciona de uma forma. Alguns têm uma vida mais saudável comendo três vezes ao dia, enquanto outros se sentem melhor se comerem em pequenas porções diversas vezes, e há até quem prefira pular refeições. Vai de cada um.

O segredo talvez seja parar de se alimentar quando o relógio disser que é a hora e, em vez disso, comer quando estiver com fome, quando o seu corpo avisar que precisa ser reabastecido. As convenções sociais do horário de café da manhã, almoço e jantar nos foram impostas, mas ninguém nunca ensinou isso ao nosso organismo, então por que lutar contra quem quer apenas nos manter vivos e saudáveis?

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