Ciência
20/03/2024 às 20:00•3 min de leituraAtualizado em 03/04/2024 às 10:43
Se você pudesse viajar no tempo, navegando pelo Oceano Atlântico Sul há cerca de 40 milhões de anos, certamente iria se deparar com uma visão deslumbrante. Uma gigantesca ilha tropical emergiria majestosamente do mar, com suas montanhas imponentes e densas florestas, cercadas por praias douradas e recifes exuberantes. Essa ilha de fato existiu e ficava aqui pertinho do Brasil.
Nomeada de Elevação do Rio Grande (ERG), essa região (que fica a milhares de metros de profundidade) era identificada apenas como uma elevação submarinha misteriosa. Mas, a partir de 2018, expedições científicas revelaram um passado incrível. Por meio de análises de sedimentos e mapeamento detalhado, os cientistas descobriram que a ERG já foi uma ilha vulcânica gigante, com características semelhantes ao interior de São Paulo.
Amostras de argila vermelha — tipo de solo que se forma apenas em ambientes terrestres e úmidos — coletadas no fundo do mar revelaram minerais típicos de ambientes tropicais, indicando que a ERG já esteve exposta ao ar livre, ou seja, já houve um solo terrestre ali.
Imagens de alta resolução mostraram a interposição de rocha basáltica com argila vermelha no meio, indicando períodos de atividade vulcânica intercalados com eras de clima tropical. Rochas adjacentes à argila foram datadas com 44 milhões de anos, confirmando se trata da época do Eoceno (período entre 56 e 34 milhões de anos atrás), quando o clima da Terra era quente e as florestas tropicais dominavam.
Além da ERG ter sido um paraíso tropical, ela também representa um elo perdido entre o Brasil e a África. Sua formação e submersão estão intimamente ligadas à história geológica da região. A área foi formada por uma câmara magmática que empurrava a crosta terrestre para cima, criando vulcões e derramando lava. Com o tempo, a câmara magmática esfriou, a ERG afundou e foi submersa pelo oceano.
Evidências sugerem que a Elevação do Rio Grande, mesmo não estando diretamente conectada ao continente, compartilhava clima e características geológicas com a região, como a "terra roxa" do interior paulista.
A ERG guarda em suas profundezas um passado fascinante e um futuro incerto. Rica em minerais valiosos atualmente, como cobalto, níquel, lítio e telúrio — itens hoje importantíssimos para as novas tecnologias —, a região desperta interesse para a exploração mineral. Logo, a exploração dessa região não tem apenas um interesse científico, mas, e principalmente, um interesse mercadológico.
A extração desses recursos levanta questões éticas e ambientais. É fundamental investir em pesquisas para entender os impactos da exploração e garantir a preservação do meio ambiente marinho.
Outro ponto a ser debatido é sobre quem tem o direito de explorar a área. Como a Elevação do Rio Grande está situada em águas internacionais, o Brasil fez uma solicitação para estender sua plataforma continental e incluir a área da elevação.
No entanto, as regras estabelecidas pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS, na sigla em inglês) podem complicar as coisas. Essa convenção limita o território marinho que um país pode reivindicar a apenas 200 milhas náuticas além de sua costa.
De qualquer forma, como visto, teremos pela frente discussões geopolíticas e ambientais. Quando falamos em explorar recursos naturais, precisamos considerar os impactos que isso terá no ecossistema marinho. Afinal, interferir nessa área pode afetar a vida marinha, os corais e até mesmo os processos naturais essenciais para o equilíbrio do nosso planeta.
Mantenha-se atualizado com os mais recentes estudos sobre a formação do nosso planeta aqui no Megacurioso. Até a breve!