Artes/cultura
30/04/2024 às 08:00•2 min de leituraAtualizado em 30/04/2024 às 08:00
A afirmação de que a latitude da Grande Pirâmide do Egito é idêntica à velocidade da luz não é realmente nova, mas será que é verdade? Na internet, principalmente em publicações virais, é possível descobrir que a velocidade da luz é de 299.792.458 metros por segundo e que a latitude da pirâmide é de 29,9792458°N. Ou seja, exatamente igual, considerando apenas as informações numéricas.
O mais curioso é que ambas as medidas estão corretas e, portanto, são coincidentes. Mas, por mais avançada que seja a cultura egípcia da época das pirâmides, também é uma mera coincidência! Vamos aos fatos.
Primeiro, a latitude: ainda que a pirâmide de Gizé esteja localizada em 29,9792458°N, ela não é a única localizada ali. A latitude dá a volta no planeta, então vários outros pontos da Terra estão sobre ela. Mas, na época, os egípcios nem sequer usavam sistemas de latitude e longitude.
Agora, quando falamos da questão da velocidade da luz, a situação é um pouquinho mais complexa. Oficialmente, ela foi medida apenas em 1676, pelo astrônomo dinamarquês Ole Roemer, que usou as órbitas da Terra, do Sol e de Júpiter e sua lua Io para o cálculo. Porém, foi só em 1819 que houve uma precisão maior, quando o físico francês Armand Hyppolyte Fizeau conseguiu definir a velocidade com erro pouco menor que 10% da medida real/oficial que temos hoje em dia.
Antes dele, filósofos debateram a questão. Empédocles chegou a dizer que a velocidade da luz era infinita; Ptolomeu e Euclides afirmavam que ela era emitida pelos olhos; enquanto Aristóteles e Heron de Alexandria acreditavam que ela propagava por corpos e era finita. Já Galileu Galilei, em 1638, realizou alguns experimentos, mas não tinha a tecnologia necessária na época.
Ou seja, se os antigos egípcios tinham conhecimento da velocidade da luz muito antes desse pessoal, mantiveram em segredo. Porém, mesmo que tivessem feito essa medição, existe outra questão crucial nessa história: a escala de medida.
Até a Revolução Francesa, no final do século XVIII, não havia um sistema de medida universal. Assim, em 1790, a Academia de Ciências de Paris e a Sociedade Real de Londres definiram o sistema métrico que se espalhou pelo mundo. Ele foi adotado pelo Brasil, por exemplo, em 1862, mas só se tornou padrão mundial nos anos 1960 – apenas três países não o utilizam atualmente: Estados Unidos, Libéria e Myanmar.
Voltando à época da construção das pirâmides, o sistema de medida egípcio era o côvado, baseado na medida do antebraço. Assim, se tivessem descoberto a velocidade da luz, jamais a escreveriam em metros por segundo.
Por isso, por mais incrível que pareça, a latitude da Grande Pirâmide do Egito coincidir com a velocidade da luz é puramente uma coincidência!